Sobreviver, mais uma vez!

Sobreviver, mais uma vez!
  "A doença é a zona noturna da vida, uma cidadania mais onerosa. Todos que nascem têm dupla cidadania, no reino dos sãos e no reino dos doentes. Apesar de todos preferirmos só usar o passaporte bom, mais cedo ou mais tarde nos vemos obrigados, pelo menos por um período, a nos identificarmos como cidadãos desse outro lugar.” É com essas palavras que Susan Sontag abre seu livro Doença como metáfora, escrito em 1978, quando a autora fazia seu primeiro tratamento contra o câncer. Tratava-se, diz ela, menos de querer analisar esse deslocamento, uma espécie de migração que nos leva do mundo dos sãos para o mundo das doenças, e mais de entender a construção dos estereótipos que as cercam, das “fantasias sentimentais e punitivas” que giram em torno delas. Principalmente quando se trata da tuberculose e do câncer, assim como, posteriormente, da aids. Seu tema, continua Sontag, não é a doença física em si, seu entendimento e sua descrição médica, mas os usos que fazemos dela como figura ou metáfora. Esses usos, por sua vez, precisam ser revertidos em seu contrário, na medida em que a autora afirma, peremptoriamente, que a enunciação das doenças por metáforas não é a melhor maneira de lidar com elas. Em vez disso, se faz necessário e urgente desmontar as metáforas, para que possamos enfrentá-las e sermos mais resistentes a elas. Eu diria que tal desmonte implica um gesto, que seria ao mesmo tempo ético e político. Ético na medida em que pressupõe outras formas de convivência social, assim como a aquisição de novos hábito

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