Sinuca de bico
(Arte Andreia Freire)
Quando ainda presidente da Funarte, participei de uma reunião de análise de conjuntura sobre a situação política do país. Isso deve ter sido em junho de 2015. Na ocasião, tentei mostrar por que, no meu modo de ver, o governo Dilma se encontrava numa “sinuca de bico”.
O beco sem saída aonde chegara a nova matriz econômica, somado à pressão das elites financeiras (que não dava para ignorar, saindo de uma eleição apertada como a de 2014), obrigava-o a capitular na política econômica, adotando a lógica do ajuste, com toda a sua consequência recessiva imediata. Isso, por sua vez, o condenava a perder, de uma tacada só, o apoio do subproletariado (base fundamental do lulismo, segundo o estudo de André Singer), do proletariado e, já numa perspectiva mais ideológica do que pragmática, da esquerda em geral.
As investigações da Lava Jato, impulsionadas pelo antipetismo da grande imprensa, se encarregavam de acabar de vez com o apoio das classes médias (que já não tinham o PT em alta conta desde o episódio do mensalão). O parlamento, esse Dilma nunca teve. A tempestade perfeita já estava armada e não havia mais – dentro de uma perspectiva imediata e pragmática – o que o governo pudesse fazer. Se corresse o bicho pegava, se ficasse o bicho comia. A situação foi apenas se deteriorando, até que as condições políticas permitiram a sua derrubada, numa manobra parlamentar que fez a constituição falar o que ela queria ouvir.
O golpe branco do impeachment foi o erro (da perspectiva da defesa da democracia, claro) fundamental
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