Revisitando Adão e Eva
Que consequências subjetivantes terá esse mito fundante exercido em nossa cultura? (Foto: Rony Hernandes)
Um dos principais mitos constitutivos da cultura ocidental, repetido sem qualquer constrangimento ou questionamento, é o de Adão e Eva. Adão, idealizado e produzido por ninguém menos do que Deus, é criado à sua imagem e semelhança! Para apaziguar seu tédio solitário, de um pedaço de sua costela – região sem qualquer nobreza especial – é feita Eva, com quem, então, inaugura a espécie humana.
É notável tal versão inaugural da humanidade, na qual uma inversão absolutamente naturalizada retira da mulher sua condição de quem gesta e pare sujeitos, e torna-a um ser gerada do e feita para o homem.
Que consequências subjetivantes terá esse mito fundante exercido em nossa cultura? Ou será que a própria construção do mito é reveladora dos desejos e lugares atribuídos a uns e outros?
À mulher caberia estar a serviço do homem? Seria uma categoria humana secundária à masculina? Ou o mito apontaria, ainda, para outra inversão – esta, podemos dizer, de cunho reparador: a de que o homem fálico e autossuficiente não se sustenta, sendo a introdução da mulher em sua vida não a prova do poder de Deus a serviço do gozo masculino, mas sim a constatação da fragilidade humana e sua dependência de um outro para sobreviver e criar descendentes? Enfim, teria nosso mito civilizatório comprometido gravemente a condição mesma de civilidade, ou seria sua formulação o indicador dessa impossibilidade?
Freud, ainda distante do atual debate de gênero, mas, não neguemos, já trazendo subsídios, refere, no artigo “Moral sexual
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