Raduan Nassar: ‘Foi um sentimento forte de fracasso que me fez abandonar a literatura’

Raduan Nassar: ‘Foi um sentimento forte de fracasso que me fez abandonar a literatura’
Raduan Nassar no Espaço CULT durante encontro promovido pela Revista CULT (Foto: Helô D'Angelo)

 

 

Raduan Nassar vive um momento “jovem”. A fala de Augusto Massi, crítico literário e amigo do escritor, comprovou-se na noite desta quinta-feira (29) durante encontro promovido pela Revista CULT entre Nassar, seus leitores e estudiosos de sua obra.

Retirado da vida pública e do meio literário há mais de trinta anos, o autor de ‘Lavoura arcaica’ respondeu, muitas vezes de maneira sucinta, a perguntas sobre política, agricultura e literatura, assunto que costuma evitar.

Indagado por um membro da plateia, disse que um “sentimento muito forte de fracasso” o fez abandonar a literatura – como afirmou em entrevista a Manuel da Costa Pinto publicada na CULT. “Eu era um autor encalhado. Não vendia, estava totalmente esquecido”, afirmou.

Raduan relembrou o processo de escrita de ‘Lavoura arcaica’, adaptado para o cinema por Luiz Fernando Carvalho em 2001. O autor fazia anotações em pequenos pedaços de papel que guardava no bolso, e muitos deles acabavam se perdendo. “Era um modo de escrever muito particular, vamos dizer”, brincou.

Provocado pelo amigo Augusto Massi, revelou ainda que um de seus maiores lamentos foi não ter escrito um texto que tinha “pronto na cabeça” chamado ‘As três batalhas’, sobre a relação de um menino e um velho.

O texto, segundo Massi, teria sido pensado como uma espécie de complemento para o conto ‘A menina a caminho’, escrito no início dos anos 60 – e Luiz Fernando Carvalho contou que havia, até mesmo, a ideia de filmá-los em conjunto, como uma única narrativa.

“Muitas obras suas tem confrontos, e eu tenho particular encanto pela possibilidade de ver essa história escrita porque ela parte de um confronto, mas fala de uma aliança poderosa entre dois homens”, disse Massi.

Apesar da recusa a pedidos de entrevista e a eventos de literatura, Raduan afirmou que nunca deixou de se manifestar sobre a situação política do país, especialmente após o impeachment da presidente Dilma Rousseff.

Seu posicionamento político, disse, veio do pai, João Nassar, libanês de origem síria que “vivia como fugitivo no próprio país”. “Eu ouvi na minha adolescência todas essas histórias e acho que minhas posições políticas vieram fundamentalmente dele”, disse.

Participaram do encontro Luciana Wrege Rassier (UFSC), Sabrina Sedlmayer (UFMG), o crítico literário Manuel da Costa Pinto e o cineasta Luiz Fernando Carvalho. Da plateia, Frei Betto, Paulo Lins e Berthold Zilly, tradutor alemão de Raduan, fizeram comentários sobre a obra – e a pessoa – do autor.

“Raduan não é apenas um grande escritor, um grande poeta, é um grande conhecedor do coração humano”, disse Zilly. “Eu conheci melhor a mim mesmo e a meus filhos; sei melhor agora o que é família e sociedade graças a você.” Ao final do evento, o escritor fez ainda uma leitura de um trecho de ‘Lavoura arcaica’. A íntegra do evento está disponível no Facebook da Revista CULT.

(2) Comentários

  1. Colegas da CULT, foi gravado o evento? se sim, vão disponibilizar no youtube? bom trabalho e forte abraço!

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