Quem foi Nise da Silveira?
O presidente Jair Bolsonaro (PL) vetou a inscrição da psiquiatra Nise da Silveira no Livro dos Heróis e Heroína da Pátria. A homenagem é dada para pessoas que tiveram papel fundamental na construção do Brasil. O veto foi publicado no Diário Oficial da União nesta quarta-feira (25).
Segundo Bolsonaro, não é possível avaliar o impacto do trabalho de Nise no desenvolvimento da nação. O presidente escreveu que “prioriza-se que personalidades da história do país sejam homenageadas em âmbito nacional, desde que a homenagem não seja inspirada por ideais dissonantes das projeções do Estado Democrático”.
O pedido para a inclusão de Nise no Livro dos Heróis e Heroína da Pátria foi feito pela deputada federal Jandira Feghali (PCdoB) e o Senado já havia aprovado a inscrição da médica para a homenagem no dia 24 de abril.
Apesar do veto, Nise da Silveira é reconhecida mundialmente por suas contribuições para a psiquiatria. A seguir, leia um breve perfil sobre a obra da médica.
Quem foi Nise da Silveira
Nise Magalhães da Silveira (1905 – 1999) nasceu em Maceió (AL). A psiquiatra se formou em 1926 na Faculdade de Medicina da Bahia e foi a única mulher da turma de 158 alunos. Os estudos de Nise sobre o inconsciente foram inspirados pelo trabalho de Carl Gustav Jung. Ela foi responsável pela introdução da psicologia junguiana no Brasil.
Nise conquistou reconhecimento mundial por ter elaborado abordagens humanizadas para pessoas com transtornos mentais e por se opor a tratamentos extremos como o choque elétrico, lobotomia e o confinamento.
A psiquiatra defendia o uso da arte para a manutenção da saúde mental, especialmente modelagem e pintura. Além disso, Nise incentivava os pacientes – que ela preferia chamar pelo nome próprio ou por clientes – a manter contato e cuidar de cães e gatos. Inclusive, A médica escreveu um livro dedicado aos felinos, chamado Gatos, a Emoção de Lidar.
Acusada de ter envolvimento com o comunismo por ter livros marxistas em seu acervo pessoal, a psiquiatra foi presa durante o governo de Getúlio Vargas, entre 1936 e 1937. Neste período, Nise conheceu o escritor Graciliano Ramos no presídio, que chegou a mencioná-la no livro Memórias do Cárcere.
Em 1952, os trabalhos artísticos de parte dos pacientes de Nise da Silveira foram reunidos no Museu de Imagens do Inconsciente, no Rio de Janeiro. Alguns dos quadros foram levados para o II Congresso Internacional de Psiquiatria, em Zurique, na Suíça. A exposição foi inaugurada pelo próprio Carl Jung.
Em 1956, Nise inaugura a Casa das Palmeiras, um centro de tratamento que tem a proposta de oferecer atividades para reinserir na sociedade indivíduos que tiveram alta psiquiátrica.
“Não se curem além da conta. Gente curada demais é gente chata. Todo mundo tem um pouco de loucura. Vou lhes fazer um pedido: vivam a imaginação, pois ela é a nossa realidade mais profunda. Felizmente, eu nunca convivi com pessoas ajuizadas. É necessário se espantar, se indignar e se contagiar, só assim é possível mudar a realidade…” Nise da Silveira
A médica dá o nome de várias instituições ligadas ao estudo da mente, como a Associação Nise – Imagens do Inconsciente, em Paris, na França, e o Instituto Municipal Nise da Silveira, no Rio de Janeiro.
O trabalho desenvolvido no Museu do Inconsciente foi retratado no documentário Imagens do Inconsciente (1987), dirigido por Leon Hirszman. Em 2016, a psiquiatra foi interpretada por Glória Pires no filme Nise – O Coração da Loucura.
Em 2017,a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) incorporou o acervo da psiquiatra ao registro internacional do Programa Memória do Mundo, que tem por objetivo facilitar a preservação do patrimônio documental mundial e torná-lo acessível a todos. Segundo a entidade, a indicação garante a preservação dos ensinamentos da renomada psiquiatra brasileira que, por meio de cartas trocadas com Carl Jung, deu abertura para a entrada da psicologia junguiana na América Latina. Abaixo, assista ao vídeo da Unesco sobre Nise da Silveira.
Em decorrência de uma pneumonia e insuficiência pulmonar, Nise faleceu em 1999, aos 94 anos, no Rio de Janeiro.
“O que melhora o atendimento é o contato afetivo de uma pessoa com outra. O que cura é a alegria, o que cura é a falta de preconceito.” Nise da Silveira
Para saber mais
Museu virtual – Ocupação Nise da Silveira – Itaú Cultural
Documentário – Imagens do Inconsciente (1987), dirigido por Leon Hirszman
Livro – MELLO, L.. Encontros. Nise da Silveira. São Paulo: Azougue Editorial, 2009. Entrevistas e depoimentos que Nise da Silveira concedeu entre 1976 e 1997
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