Uma exceção no mundo

Uma exceção no mundo
(Foto: Giuseppe Gradella Photography)
  Elisabeth Roudinesco descreveu duas condições necessárias para a implantação da psicanálise em uma cultura: a existência da liberdade de associação e o abandono de crenças mágico-animistas na interpretação dos transtornos mentais. A primeira condição remete ao Estado Democrático de Direito, assim como a segunda se evidencia pela autonomização da Psiquiatria e da Psicologia como saberes e disciplinas socialmente sancionados. O Brasil parece responder a essas duas situações de maneira um tanto anômala, tanto por nossas garantias institucionais serem historicamente instáveis, como pelo fato de a primazia do saber laico sobre os transtornos mentais ser constantemente posta sob suspeita. De certa maneira, compreender a disseminação e o relativo sucesso da psicanálise no Brasil é entender o caráter cronicamente reversivo de nossa modernização. É entender como nosso patriarcalismo patrimonialista e como nosso racismo de classe conseguem compor-se com experiências modernizantes e contrassegregatórias.  De fato, uma das imagens mais fortes do espírito das luzes e do progresso da razão é o reconhecimento da irracionalidade e da loucura como signos do atraso. Nesse quesito o Brasil não é exceção. Lembremos que um dos primeiros atos do imperador Dom Pedro II, visando modernizar o Brasil, foi fundar em 1852 o hospício que até hoje leva seu nome. Ainda que dirigido por clérigos e destituído de pretensões médicas, e ainda que nosso primeiro alienista tenha sido machadiano, a chegada da psicanálise ao Brasil foi contemporânea da

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