“Populismo é usado mais como insulto que como conceito”
Getúlio Vargas (ao centro, segurando o chapéu) desfila em carro aberto em 1943 (Museu Villa-Lobos)
Há 70 anos, ao sair da vida para entrar na História, Getúlio Vargas deixava como legado um programa econômico desenvolvimentista, uma legislação social avançada e a marca de uma ditadura.
Professor titular de história da Universidade Federal Fluminense (UFF), Jorge Ferreira contesta o populismo como categoria explicativa do período getulista e sustenta que a permanência do nome de Vargas não pode ser explicada apenas pela propaganda. Para Ferreira, também é necessário investigar como a ditadura do Estado Novo, à direita no espectro ideológico, formulou as bases de um programa social. “É isso que precisa ser problematizado, ou não vamos entender por que discutimos Getúlio Vargas até hoje”, afirma.
Setenta anos após sua morte, Getúlio Vargas continua no centro de disputas na memória e na historiografia brasileira. O período getulista foi, sobretudo a partir dos anos 1960, interpretado pela chave conceitual do populismo. Nesse sentido, Vargas teria sustentado seu poder em mecanismos como manipulação e propaganda. O senhor é crítico dessa tese. O que o levou a contestar essa perspectiva?
Essa interpretação já vem sendo criticada desde a década de 1980 por intelectuais de diversas áreas das ciências humanas. É uma visão que se baseia em um dualismo perverso. De um lado, haveria um líder muito esperto e um Estado todo poderoso; de outro, uma sociedade inerte e trabalhadores passivos.
Desde os anos 1980, muitos historiadores compreendem a relação entre Estado e sociedade como uma via de mão dupla. O Estado tem instr
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