A política dos sem-política
A filósofa Marcia Tiburi (Foto Simone Marinho / Divulgação)
Políticos foram eleitos no último pleito sustentando um discurso, no mínimo, estranho. Alegavam que não eram políticos. Os que votaram neles, aprovando o ato, sem a mínima atenção a essa estranheza, caíram em uma armadilha. Tivessem feito uma pergunta simples “o que alguém faz quando se filia, se candidata e faz campanha, senão política?”, estariam libertos dela.
Ora é impossível não fazer política pelo fato de que todos os nossos atos humanos só são humanos porque são políticos. Fazemos política consciente ou inconscientemente, o tempo todo, por ação ou omissão. Mais ainda quando participamos ativamente das instituições e organizações políticas.
Aqueles que se elegeram a partir do discurso antipolítico fizeram política enquanto, ao mesmo tempo, a negaram. Venceram em uma zona estranha,
a da contradição, e da autocontradição, onde, em política, como na vida em geral, se joga o jogo das relações humanas na posição do cínico ou do otário. No primeiro caso, usa-se a contradição a seu favor; no segundo, cai-se nela achando que se leva alguma vantagem. É a velha dialética do senhor e do escravo que assumiu uma nova forma: ela foi substituída por uma espécie de dialética cínica negativa e sem solução.
A antipolítica é a redução da política à propaganda contra a política. A
propaganda esconde a contradição, e a política se aproveita dela. Despolitização é um nome parcial para falar do esvaziamento publicitário da ação política produzido e intensificado pelos discursos e pelas instituições
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