Poiesis, pharmakon
(Ilustração: Cynthia Gyuru)
A poesia é um remédio? Por quê? Para quê? Para quem? Gira em torno dessas perguntas a reflexão que aqui ensaio sobre poesia. Mas, antes, é necessária uma contextualização: escrevo em meados de maio de 2020, no apartamento em que vivo com minha esposa e nossos dois filhos (de 13 e 10 anos) em São Bernardo do Campo. Já se passaram 60 dias de isolamento social para nós: conseguimos trabalhar e estudar em casa, então nesse período saí à rua, rapidamente, apenas para as urgências da subsistência. Do lado de fora, passam de 17 mil as mortes causadas pela Covid-19 no país. Do lado de dentro, ocupações e mil preocupações com a vida, em seus diversos sentidos, misturam-se com o chamado das coisas práticas: lavar, limpar, cozinhar. É aqui, assim, agora, que vivo e leio e escrevo (sobre) poesia.
No início, imaginei que seria uma temporada mais meditativa, digamos assim, ou de buscar na estante livros lidos há muito tempo e escrever tudo aquilo que projeto para um tempo com mais tempo. Mas, para minha surpresa, esses dias têm sido dedicados à leitura de muitos textos quentes, escritos durante a quarentena, textos de todas as naturezas, muitos poemas entre eles. Não passa um dia sem que algo novo venha dos poetas, sejam poemas novos ou leituras de poemas de outras épocas que dizem algo forte, talvez ainda mais forte nas condições em que nos encontram(os) hoje. Desde os primeiros dias (na verdade, sinto como um movimento que se estende já há alguns anos nas redes sociais), os poetas sentiram necessidade de reagir, cada um à sua maneira,
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