Poema inédito de Hilda Hilst é encontrado em arquivo da Unicamp

Poema inédito de Hilda Hilst é encontrado em arquivo da Unicamp
A poeta Hilda Hilst na década de 1950 (Foto Fernando Lemos / Acervo Instituo Hilda Hilst)

 

 

Um poema perdido da poeta Hilda Hilst (1930 – 2004), escrito em 1949, foi descoberto pela pesquisadora Milena Wanderley, doutoranda em literatura pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS). A informação é do colunista da Folha de S.Paulo, Maurício Meireles. Publicado originalmente em uma revista literária que nunca chegou a ser digitalizada, o texto foi escrito quando a autora tinha apenas 19 anos.

Não é a primeira vez que a pesquisadora descobre um texto inédito em livro da autora: em novembro do ano passado, ela já havia encontrado um poema de Hilst da mesma época, publicado na revista literária Colégio e encontrado no Centro de Documentação Alexandre Eulálio (CEDAE). “Eu sabia que aquilo era apenas a ponta do iceberg, então continuei procurando”, conta.

A descoberta mais recente aconteceu na última quinta (22), enquanto pesquisava no Arquivo Edgard Leuenroth (AEL), na Unicamp. No arquivo, Milena se deparou com um poema sem título de Hilst publicado na revista Tentativa (1949). “Ela fala abertamente de amor e de fracasso, e essa conexão com os sentimentos a deixaria marcada na crítica, no começo, como uma autora ‘feminina’”, afirma a pesquisadora, ressaltando o caráter depreciativo geralmente relacionado ao termo “feminino”.

Já na primeira leitura, ela afirma ter notado uma poeta muito diferente daquela que se consagrou como uma das maiores do Brasil, já que, a partir das primeiras críticas, teria “endurecido” sua poesia. A mudança, segundo ela, já pode ser percebida a partir de seu segundo livro, Balada de Alzira (1951). “Ela começa a alterar a forma, e acaba ressignificando seus temas e criando uma forma de resistir dentro da própria poesia”, afirma Milena, que estuda justamente a recepção da crítica à poesia de Hilst.

Com as descobertas, a pesquisadora espera mostrar uma poeta jovem que teve que “se adaptar para sobreviver no meio literário”. O texto encontrado em 2016 foi incorporado à coletânea Da poesia, publicada pela Companhia das Letras neste ano, mas por enquanto não há planos para a publicação do segundo poema. Leia abaixo na íntegra:

Fracassamos. Seremos os eternos fracassados.
Mas daqui a sete mil anos
abriremos as portas de todos
os claustros e lá nos encerraremos.

Seremos então os primeiros enclausurados
puros,
brancos,
mãos brancas, rosto branco
BRANCO – Ausência de amor.

Não haverá sinos em nossos campanários
(nem sinos, NEM AMOR)
qualquer luz em nossas celas
iluminará somente os livros
de quotidiana meditação.

Fomos improdutivos. Fomos estéreis.
Naufragamos no mar da compreensão.
Prostituímos ternamente as cousas
que só nós entenderíamos.

E nos tornamos eternos fracassados…

Não haverá sinos em nosso campanários
(nem sinos, NEM AMOR)

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