Para Juca Ferreira, MinC sofre ‘ataque’ desde impeachment de Dilma Rousseff
O ex-ministro da Cultura Juca Ferreira (Foto Fernando Frazão / Agência Brasil)
Roberto Freire renunciou ao cargo de ministro da Cultura nesta quinta (18) após pronunciamento de Temer; veja depoimentos de Celso Frateschi, Laís Bodanzky, Ignácio de Loyola Brandão e Maria Shu
Roberto Freire anunciou sua renúncia à chefia do Ministério da Cultura na tarde desta quinta-feira (18). A informação foi confirmada pela Assessoria de Comunicação do Ministério da Cultura, procurada pela reportagem da CULT na tarde desta quinta. Ainda segundo informações da assessoria, o ministro já apresentou sua renúncia a Eliseu Padilha, ministro chefe da Casa Civil.
Em entrevista à CULT, Juca Ferreira, ministro da Cultura entre 2008 e 2010, no governo Lula, e entre 2015 e 2016, na gestão de Dilma Rousseff, disse que, desde o impeachment, “o MinC sofre um ataque”: “Houve uma tentativa de extingui-lo, inicialmente, e agora estão corroendo por dentro todas as políticas, desestruturando os núcleos de trabalho que tínhamos constituído nesses últimos quinze anos”, afirma. “Ficar ou sair [do governo] é a mesma coisa: está entre sair publicado o afastamento do Temer ou antes. Freire preferiu sair antes.”
O ator e diretor teatral Celso Frateschi criticou a gestão de Roberto Freire à frente do ministério. “O que a gente viu foi um aparelhamento sem igual, sem nenhum critério técnico e artístico”, afirmou à CULT. Apenas nos três primeiros meses de 2017, Freire nomeou dez correligionários para integrar a pasta. “São pessoas com pouca sensibilidade cultural, social e humana. O que vimos foi, na verdade, um nada, a ideia de voltar à política de ausência que dominou a política cultural brasileira por anos”, afirma.
O escritor e jornalista Ignácio de Loyola Brandão disse que a renúncia é um “alívio”, mas que o próximo passo deve ser o afastamento do presidente Michel Temer: “Espero que seja um caminho para a retomada da possível cultura que existe no Brasil”.
Ainda que não veja impactos imediatos para o cinema, a cineasta Laís Bodanzky acredita que o momento é “traumático”. “Eu vejo no governo Temer um governo golpista. Quando um ministro renuncia percebendo que não poderia ser cúmplice [deste governo], eu me pergunto, então, por que entrou? Infelizmente os políticos aceitam cargos por objetivos pessoais e não estão pensando de fato na execução, na organização de uma área que não pode ser abandonada [a cultura]. A gente vai ter que tomar esse susto para reorganizar a casa, mas eu prefiro que seja assim, às claras”, diz.
A atriz Maria Shu, da Cia Pau D’Arco de Teatro, disse que é preciso “urgentemente” de representantes comprometidos com a pauta da cultura. “Calero foi substituído por Roberto Freire, que chegou a comentar que não via problemas na junção desta pasta a outro ministério. O mesmo ministrou que tentou, deselegantemente, tirar o protagonismo de um escritor durante uma premiação literária. Isso diz muito sobre o atual governo, que tem ruídos em seu discurso sobre representatividade, que pouco dialoga, que pouco escuta seus eleitores, que não enxerga o papel da cultura na formação da identidade, que ignora a cultura como um componente ativo na vida do ser humano.”
Renúncia
A ação do agora ex-ministro foi motivada pela delação de executivos da JBS divulgada nesta quarta (17) pelo jornal O Globo, em que um dos donos do grupo, Joesley Batista, disse ter gravado o presidente Michel Temer concedendo aval para o pagamento de propina com o intuito silenciar o ex-deputado Eduardo Cunha na prisão. Hoje mais cedo, Freire disse à VEJA que se Temer não renunciasse, ele o faria.
Presidente do PPS, o ex-ministro estava à frente do Ministério da Cultura desde novembro, quando substituiu Marcelo Calero na pasta. Agora, tendo deixado o cargo, o ex-ministro pode retornar à função de deputado federal, cargo que deixou para comandar a pasta da Cultura. Quem deve assumir o cargo interinamente é o cineasta João Batista de Andrade, secretário-executivo da pasta.
Citado na Lava Jato em abril, Freire é suspeito de ter recebido R$ 200 mil por meio do Setor de Operações Estruturadas do Grupo Odebrecht durante a campanha à Câmara dos Deputados em 2010. Por meio de assessoria, Freire reforçou “sua idoneidade em toda a sua trajetória política e sua disposição em contribuir com os esclarecimentos necessários à Justiça”.
Durante seu mandato, Freire também esteve envolvido em polêmicas na esfera cultural. No ano passado, o ex-ministro se irritou com um discurso de Raduan Nassar no Prêmio Camões 2016, no qual o escritor criticou duramente o governo Temer, chamando-o de repressor. O então ministro usou o próprio discurso para responder à fala de Raduan, dizendo que “quem dá prêmio a adversário político não é a ditadura”.