Os desvios da imagem
Cena do filme 'Crítica da separação' (1961), de Guy Debord (Reprodução)
Frente ao interesse cada vez maior por sua obra teórica, pode-se afirmar que os seis filmes realizados por Guy Debord entre 1952 e 1978 (além de um programa para o Canal +, em 1994) são, ainda hoje, duas décadas após sua morte, pouco debatidos. Em 2001, por iniciativa de Alice Becker-Ho, viúva do autor, realizou-se uma retrospectiva no Festival de Veneza. A partir de então, o relançamento de um livro com os textos dos filmes e outras retrospectivas completas, em Paris (2005) e Nova York (2009), reacenderam o interesse pela obra cinematográfica do autor de A sociedade do espetáculo. Em Debord, o cinema pode ser usado para elaborar questões que serão depois incorporadas aos textos críticos ou, por outro lado, para rediscutir ou reafirmar aspectos dos textos teóricos. Cinema e teoria: um elemento como caixa de ressonância do outro.
Em seus filmes, Debord desenvolve uma maneira particular de reapropriação de imagens pré-existentes, num diálogo que reelabora algumas vertentes das vanguardas de 1920 na França, com o objetivo de realizar a crítica da própria imagem em movimento. Seu primeiro projeto, realizado quando o autor contava apenas vinte anos de idade, apresenta uma estrutura radical. Em Hurlements en faveur de Sade (1952) (“Urros a favor de Sade”), trechos com a imagem totalmente branca (como se a luz do projetor batesse diretamente na tela, sem nenhum anteparo) são alternados com longas passagens de imagem preta (como se a mesma luz não mais alcançasse a tela, interrompida pela película). Com o branco, ouvem-se vozes – entre elas, a do pr
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