Após prisão de lideranças, Ocupação 9 de Julho organiza festa junina

Após prisão de lideranças, Ocupação 9 de Julho organiza festa junina
Eduardo Suplicy na Ocupação 9 de Julho, região central de SP (Foto: Reprodução/Facebook Cozinha Ocupação 9 de Julho)

 

Neste sábado (29) e domingo (30), os moradores da Ocupação 9 de Julho, no centro de São Paulo, preparam quitutes juninos e convidam a todos para o arraiá da ocupação. O evento, que tem apoio da Prefeitura, da Secretaria Municipal de Cultura e da Secretaria Municipal de Turismo, ainda terá shows de Mariana Aydar, Ana Cañas, Chico César, Felipe Catto e outros músicos, que se apresentam voluntariamente. 

A festa permaneceu no calendário da ocupação mesmo com as prisões temporárias de dois de seus principais líderes nesta semana, Sidney Ferreira da Silva e Janice “Preta” Ferreira da Silva – também cantora, atriz e apresentadora do Boletim Lula Livre, na TV dos Trabalhadores. Ambos fazem parte do Movimento dos Sem Teto do Centro (MSTC), que coordena a Ocupação 9 de Julho. “Foi uma escolha não desmarcar”, diz Flavia Gianini, assessora voluntária da Frente de Luta por Moradia. “Não vamos ficar recolhidos.”

Também foram presas Edinalva Silva Pereira e Angélica dos Santos Lima, do Movimento Moradia Para Todos. Junto de Preta e Sidney, são acusadas de extorsão e organização criminosa. Segundo o delegado André Figueiredo, responsável pelo inquérito, há 13 testemunhas que afirmam que lideranças do movimento sem teto de São Paulo cobram dos moradores das ocupações uma quantia mensal de R$ 200 a R$ 400, que não estaria sendo revertida em melhorias nas instalações.

A investigação foi motivada por grampos telefônicos e cartas anônimas recebidas pelo Departamento Estadual de Investigações Criminosas (Deic) por meio da Delegacia Geral de Polícia e pela Secretaria de Segurança Pública. Foram solicitados 17 mandados de busca, apreensão e prisão, dos quais nove foram autorizados pelo juiz plantonista Marco Antônio Martins Vagas. Cinco pessoas não foram encontradas. 

As prisões provocaram reação imediata dos movimentos populares e da classe artística, que se manifestaram contra a “criminalização dos que lutam por moradia”. Presidente do MSTC e mãe de Preta, Carmen da Silva Ferreira foi absolvida da mesma acusação em janeiro deste ano por falta de provas. Em abril de 2017, ela foi acusada por duas moradoras da ocupação do Hotel Cambridge por supostamente cobrar aluguéis indevidos. Na ocasião, depôs apontando que todos os gastos e valores recolhidos dos moradores, utilizados para a manutenção dos prédios, são colocados em ata e registrados em cartório. 

Segundo o delegado André Figueiredo, as prisões temporárias desta semana foram decretadas para que as lideranças “não interferissem nas investigações”, justificativa que, segundo a defesa, não se sustenta: “As pessoas que tiveram prisões decretadas compareceram ao Deic, prestaram esclarecimentos quando foram intimadas. Não deixaram de colaborar com a investigação, não estavam ameaçando testemunhas e nem se desfazendo de documentos”, afirma Ariel de Castro Alves, advogado e conselheiro do Condepe (Conselho Estadual de Direitos da Pessoa Humana). 

A previsão é de que as lideranças sejam soltas nesta sexta (28). Segundo Flavia, a festa junina deste fim de semana na Ocupação 9 de Julho – que mantém um calendário cultural regular com shows, almoços mensais e apresentações teatrais -, funciona também como uma sinalização de que os movimentos por moradia não vão recuar. 

No sábado, se apresentam Rachada do Coco, Os Capoeira, Brisa Flow, Bia Ferreira + Doralyce e Ava Rocha mais convidados. No domingo, Big Up, Felipe Catto e Mariana Aydar acompanhada de Ana Cañas, Chico César e Marcelo Jeneci. A entrada é gratuita.

29 e 30/06, das 12h às 22h, na Cozinha Ocupação 9 de Julho, rua Alvaro de Carvalho, 427, Bela Vista (São Paulo – SP)

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