O ventre negro no Brasil

O ventre negro no Brasil
(Arte: Monique Malcher)
  No dia 8 de junho de 2021, Kathlen Romeu foi assassinada pela Polícia Militar do Rio de Janeiro com um tiro de fuzil no peito. Kathlen, 24 anos e grávida de quatro meses, morreu enquanto fazia uma visita à avó no Complexo do Lins, localizado no bairro Lins de Vasconcelos, na zona norte do Rio. Embora a PM negue que estivesse em uma operação, a família de Kathlen contesta e, segundo relatos dos moradores e da própria família, o tiro saiu da arma de um dos policiais que estavam dentro de uma casa para tentar acessar a boca de fumo do tráfico da região. Após o assassinato de Kathlen, sua mãe, Jaqueline Oliveira, escreveu nas redes sociais: “Não sei viver sem você, mesmo que meu coração esteja batendo, mesmo que meu corpo esteja de pé… minha alma foi junto contigo! Maldito Estado interrompeu nossa história!”. Não é de hoje que o Estado brasileiro interrompe a história do povo negro. A rotina de pessoas negras baleadas por policiais, que se tornou comum e banal em muitas cidades brasileiras, não é recente. Em um país em que a polícia é umas das que mais matam no mundo e onde a população negra e periférica é a que mais morre em decorrência de intervenção policial, esse triste acontecimento revela quanto o país ainda sofre das mazelas coloniais e racistas que o fundaram. O relato de Jaqueline Oliveira tem raízes históricas e comprova que, no Brasil, a maternidade negra é marcada pelo signo da violência e da impossibilidade. Ser negro no Brasil já se caracteriza como marca de morte. Ser mulher, mãe e periférica se tor

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