O segredo de Virginia Woolf

O segredo de Virginia Woolf
Passado em Londres ao longo de um único dia, 'Mrs. Dalloway', obra-prima da literatura do século 20, ganha nova tradução no Brasil   Nada impressiona tanto em Mrs. Dalloway (1925), obrachave da literatura de Virginia Woolf (1882-1941), quanto aquilo que, na falta de melhor nome, chamaria de “dinâmica” do romance. Passa-se todo ele em Londres, no intervalo de um único dia, cujo andamento é acentuado pelas batidas precisas das horas do Big Ben, seguidas do badalar de outro relógio, que soa descompensadamente alguns minutos depois. Compreende-se, portanto, porque Woolf intitulou-o inicialmente “As Horas”. O dia começa com o passeio de Clarissa – então com 52 anos, mulher de Richard Dalloway, membro do Parlamento Britânico–, até a fl orista, a fi m de comprar pessoalmente as flores para a festa que ela daria em sua casa naquela mesma noite, e se encerra com o seu encontro, já ao final da festa, com Peter Walsh, um antigo pretendente, que passara muitos anos na Índia e, evidentemente, sabia o suficiente para se desiludir com a civilização representada pelo Império Britânico. Esse movimento praticamente linear compõe o que poderíamos chamar de fluxo temporal do romance. Há outro fluxo derivado deste: ao longo do passeio de Mrs. Dalloway até a florista, ela cruza com Hugh Whitbread, um homem fátuo que também fora seu pretendente no passado vê passar um misterioso carro de uma autoridade, que atrai os olhares dos transeuntes, especialmente do ex-soldado Septimus, que servira com bravura na guerra e se via progressivamente to

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