O imperativo dos traços

O imperativo dos traços
2146 Pedras, memorial contra o racismo, realizado em Saarrebrücken por Jochen Gerz, 1993 (Martin Blanke / Gerz studio)
  No final do século 18, após o colapso do paradigma que via na arte uma mera imitação, os artistas e teóricos da arte tiveram que reinventar a relação entre a ficcionalidade e o mundo que nos rodeia. Nas artes trilhamos dois caminhos que se destacam para se tentar pensar a tríade ficção, imagem, história. Por um lado a arte pela arte, com sua tendência ao esteticismo puro, entronizou a ideia do artista gênio e da obra como busca da originalidade. Essa linhagem corresponde à necessidade de se criar um valor para o indivíduo alienado e entregue a um mundo para o qual, a bem da verdade, a sua existência é indiferente. Por outro lado, desde o romantismo buscou-se também um novo lastro para a arte, que de mimesis de ideias e de obras primas passou a ser vista como uma espécie de escrita carnal da história. Adorno, por exemplo, pensou a arte “como escritura histórica” na medida em que ela é para ele “memória do sofrimento acumulado”. “Mas o que seria a arte enquanto escrita da história, se ela se livrasse da memória do sofrimento acumulado?”, ele se perguntou. No seu ensaio “Aqueles anos vinte”, lemos também: “Porque o mundo sobreviveu à sua própria destruição, ele precisa na mesma medida da arte como sua escrita histórica inconsciente”.  E Adorno ainda arrematou: “Os autênticos artistas do presente são aqueles nos quais o terror mais radical treme”. Goya, com sua série de gravuras dedicadas aos desastres da guerra, tem um papel fundamental para que se compreenda a virada romântica que entronizou essa nova modalid

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