O humano e o não humano
A fauna e a flora são relevantes na obra de Clarice, que apresenta uma diversidade de animais e plantas (Arte: Claudia Roquette-Pinto)
Não ter nascido bicho parece ser uma de minhas secretas nostalgias. Eles às vezes clamam do longe de muitas gerações e eu não posso responder senão ficando desassossegada. É o chamado.
Clarice Lispector, A descoberta do mundo
O instante é semente viva.
Clarice Lispector, Água viva
A obra de Clarice Lispector tem recebido diversas abordagens da crítica especializada, no Brasil e no exterior. Sobretudo a partir dos anos 1960, destacam-se o existencialismo sartriano, a analítica existencial heideggeriana, a filosofia da linguagem, a sociologia e a psicanálise em diversas vertentes, o misticismo, a teoria crítica alemã, o feminismo, o estruturalismo e o que os estadunidenses nomearam como “pós-estruturalismo” francês. Mais recentemente, surgiram também trabalhos ligados aos estudos culturais. Sem me vincular de modo estrito a nenhuma escola, tenho me inspirado principalmente nos chamados “pensadores da diferença”, ou seja, filósofos que surgiram em particular na França, a partir da década de 1960, como Jacques Derrida, Michel Foucault, Gilles Deleuze e Roland Barthes, entre outros. Mas incluiria nessa lista também os antecessores Friedrich Nietzsche, Sigmund Freud e Walter Benjamin.
Todavia, antes de recorrer a qualquer viés teórico, sempre me interessa ler minuciosamente os próprios textos de Clarice. A reflexão que proponho a seguir se baseia nesta dupla chave: interpretação da obra e embasamento teórico. Claro está que, em função do curto espaço, as conceituações filosóficas estão em sua maior parte subentendidas.
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