O homem branco
Edição do mêsAnúncio de sabonete do fim do século 19: “O primeiro passo para aliviar o fardo do homem branco é ensinar as virtudes do asseio. O sabonete Pears é um potente fator para clarear os recônditos escuros da Terra com o avanço da civilização, enquanto ocupa o mais alto posto entre as nações aculturadas ─ é o sabonete ideal” (Reprodução/Library of Congress)
Do ativismo cotidiano às teorias academicamente produzidas, a categoria “homem branco”, ora vulgarizada, ora caricaturizada, desponta negativamente e tende a desaparecer com a extinção das condições que a produzem, a saber, a fetichização da masculinidade e da branquitude como capital na teologia econômico-política que é o patriarcado.
Golem que assola a sociedade em vias de superação do que se pode definir como patriarcapitalismo racista, o “homem branco” escamoteia seu nome pedindo que não se retire dele a letra que o fará cair por terra, desmoronado como uma frágil estátua de barro.
Um inventário da aparição dessa expressão talvez não possa ser escrito. Contudo, a tarefa de quem se dedica à teoria crítica do patriarcapitalismo passa por compreender as condições de sua aparição e desaparição. Se é válida a tese de que a razão ocidental se efetivou como colonização, também é aquela de que a descolonização, a anticolonização, assim como uma contracolonização, é efeito de uma outra forma de viver que extrapola a própria noção de “razão”, inevitavelmente patriarcal e racista, rumo a poético-políticas criadas nas coletividades de seres não homens brancos em busca do que vem sendo chamado de “comum”, algo impossível de se constituir no domínio narcísico das políticas heteronormativas e racistas que servem apenas ao homem branco e a todos os que interiorizam essa forma social.
Desmoronamento do homem branco
Robert Kurz, importante pensador marxista conhecido por suas investigações sobre a t
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