O gol da ciência brasileira
Marília Kodic
Diante de um auditório lotado e movimentando-se pelo palco, o neurocientista Miguel Nicolelis fez uma apresentação acompanhada de projeções multimídia para mostrar à audiência imagens e ruídos do cérebro em funcionamento – um “brainstorm”, ou “tempestade cerebral”, como chamou. “Tudo o que nós consideramos como parte da tal famosa e glorificada natureza humana, todas as nossas ações, emoções, memórias, anseios, planos futuros, angústias, medos e paixões se traduzem num som como esse”, disse, usando-se da descrição do filho: “uma rádio AM mal sintonizada”.
Nicolelis mostrou também, através de vídeos de seus experimentos com o Instituto Internacional de Neurociência de Natal, como primatas podem se movimentar através do pensamento. Por fim, anunciou o chamado “Walk Again Project”, que pretende restaurar os desejos motores de um corpo que não consegue mais realizar movimentos através de uma prótese de exoesqueleto, algo que espera que possa ser usado por uma criança em três anos.
“O nosso desejo é que uma criança brasileira, até então quadriplégica, possa capitanear a seleção brasileira em direção ao campo e, no país do futebol, na abertura da Copa do Mundo, executar o primeiro gol da ciência brasileira para toda a humanidade”, disse, com um perceptível nó na garganta e arrancando aplausos do público. Em seguida, o filósofo Luiz Felipe Pondé, com quem divida a mesa “O humano além do humano”, falou sobre eugenia, religião e sofrimento humano.
Outras mesas do dia incluíram a antropóloga francesa Michèle Petit, que discursou sobre a literatura na infância, e a poeta escosa Carol Ann Duffy, que se limitou, na maior parte do tempo, a recitar seus poemas, onde a mulher aparece como figura central.