O Festival

O Festival
(Foto: Reprodução/Folha de S.Paulo)
  Ninguém sabia organizar melhor um grande evento como Ruth Escobar. Foi assim com os festivais internacionais de teatro inaugurados em 1974 e o Festival das Mulheres nas Artes, que reuniu 10 mil participantes em 1982, entre as quais Mercedes Sosa e Annie Girardot. Juntamente com Leilah Assumpção, Marta Góes, Eunice Ermel, Nirce Levin e a saudosa Renata Pallottini, eu fazia parte da comissão de teatro. Não me recordo mais de cada decisão tomada, mas lembro que a palavra de ordem era liberdade. O sentimento geral era de esperança, e um clima de euforia nos inundava. Afinal a censura tinha afrouxado, cassados e exilados concorriam às eleições daquele ano. Seria a primeira eleição direta para governador desde a instauração da ditadura militar, em 1964. E nós, mulheres, éramos parte combativa na luta que devolveria a democracia ao Brasil. É disso que recordo com mais exatidão daquele Festival: da força e da certeza que nos tomava de que a ditadura estava com os dias contados. Esses dias acabaram se provando mais longos do que o esperado. A morte de Tancredo Neves, em 1985, foi um balde de água fria na nossa esperança. Mas logo nos levantamos para caminhar com as Diretas Já! Nem sempre ganhamos, mas, nessa longa marcha, aprendemos a resistir e a lutar pela liberdade. Que falta nos faz Ruth Escobar! Maria Adelaide Amaral é dramaturga, escritora, roteirista e jornalista luso-brasileira. > Assine a Cult. A mais longeva revista de cultura do Brasil precisa de você. 

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