O espetáculo da mercadoria
Fotografia da revista LIFE, de J.R. Eyerman (1952), que serviu de capa para a primeira edição de 'A sociedade do espetáculo', de Guy Debord (Reprodução).
“Toda a vida das sociedades nas quais reinam as condições modernas de produção se anuncia como uma imensa acumulação de espetáculos.” A frase que abre A sociedade do espetáculo (1967), de Guy Debord, parafraseia aquela com que Karl Marx inicia O capital: “A riqueza das sociedades nas quais domina o modo de produção capitalista aparece como uma ‘imensa coleção de mercadorias’, a mercadoria individual como sua forma elementar”. Já a abertura do livro de Debord anuncia sua tentativa de atualizar a crítica marxiana para as condições daquilo que, vinte anos antes, Adorno e Horkheimer haviam nomeado de “indústria cultural” em sua Dialética do esclarecimento. Esse livro, escrito em alemão ainda antes do fim da Segunda Guerra Mundial e publicado em 1947, permaneceu, no entanto, relativamente desconhecido até sua segunda edição alemã em 1969. A tradução para o francês só teve lugar em 1974 e, até onde se sabe, Debord não teve acesso à Dialética do esclarecimento antes disso. A ideia de espetáculo em Debord guarda impressionantes paralelos com a formulação da indústria cultural, mas não lhe é tributária, ainda que partilhe com ela uma matriz comum. Formulada de uma maneira bastante geral, essa matriz é o marxismo crítico do século 20.
Nas últimas três décadas, autores como Moishe Postone e Robert Kurz se ocuparam da crítica do que chamaram de marxismo tradicional. Em suas diversas vertentes, esse marxismo tradicional se apoia na perspectiva classista que adota o ponto de vista do trabalho como fonte da crítica so
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