Notas à margem de ‘Utopia’, de Thomas Morus
Retrato de Thomas Morus por Hans Holbein, 1527
Pode afinal a utopia impedir “o horizonte de expectativas de fundir-se com o campo da experiência”?
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Espantoso que Thomas Morus encontre – para além das preocupações domésticas, funções públicas e torrentes de casos jurídicos, empenhado em negócios do reino – “tempo livre para a elucubração de livros”. São palavras de Erasmo de Rotterdam, em carta de 1518, ao recomendar o livro de seu amigo, tanto ao editor Johann Froben quanto à posteridade.
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Guillaume Budé, um dos fundadores do Collège de France e da Bibliothèque Nationale, escreve a Thomas Lupset para acusar recebimento e agradecer envio de Utopia, essa Ilha do Novo Mundo, também chamada de Vdepotiam, “lugar do nunca”. Após estudar os costumes e as instituições dos utopienses, confessa que por pouco não se esquece de si mesmo e abandona a administração da propriedade familiar e os assuntos de sua fazenda, “ao perceber que toda a teoria e a prática econômica, e todo o zelo por aumentar os rendimentos mais não são que ninharias. Afinal, como todos veem e percebem, o gênero humano é naturalmente atiçado por dentro, de modo que é preciso confessar que quase toda a instrução e o trabalho legal têm o propósito de que, com malícia e acurada astúcia, cada um, do outro a quem está ligado por direito de cidadania ou familiar, deva sempre subtrair, tirar, pilhar, perjurar, forçar, enganar, culpar, extorquir, espoliar, atingir, submeter, supliciar, violentar, em parte com a conivência, em parte com a autorização das leis”.
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Em A ide
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