Noites e sussurros
“Gosto de ser explicada para mim mesma. Preciso saber de mim alguma coisa”. Essas são palavras comovidas de Clarice Lispector em resposta ao artigo de Nelson Coelho sobre sua obra, publicado no Jornal do Brasil.
Embora afirmasse certo distanciamento em relação à crítica, a ficcionista, pelo contrário, preocupava-se com as publicações sobre seu trabalho. Estava ciente da importância da recepção de sua obra, do papel significativo do intérprete, pelo caráter polissêmico de seus textos.
Tal relevância ainda hoje é corroborada por novas leituras sobre a escrita clariciana.
Dos novos olhares, certamente o de Carlos Mendes de Sousa, que muito a propósito evidencia em seu trabalho a estreita relação entre Clarice Lispector e a crítica, garante uma perspectiva diferente, sobretudo ao abarcar um extenso e rico material, que varia desde entrevistas a textos de congresso e declarações da escritora.
Clarice Lispector – Figuras da Escrita (Instituto Moreira Salles, 632 págs., R$ 75) é resultado de uma investigação rigorosa que culminou na defesa de tese de doutorado em 2000. Por meio de uma bolsa de estudos concedida em 1992, Carlos Mendes de Sousa coletou uma gama de textos e fragmentos nas bibliotecas e nos centros de documentação do Rio de Janeiro.
Daí se nota a segurança de um pesquisador amadurecido, especialmente quando refuta outros trabalhos sobre a autora, algumas vezes já consagrados, ou quando contradiz declarações da própria escritora.
O autor, por exemplo, desmente a assertiva da escritora em que assegura
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