Nas origens da filosofia contemporânea
Kierkegaard, de Luplau Jansen, 1902 (Arte Revista Cult)
“Durante minha visita a Freiburg, sabendo que eu nunca havia lido Kierkegaard, Husserl começou não a pedir, mas a ordenar – com enigmática insistência – que eu tomasse contato com as obras do pensador dinamarquês. Como podia ser que um homem cuja vida havia sido a celebração da razão devesse conduzir-me ao hino de Kierkegaard ao absurdo? Husserl certamente parece ter tido contato com Kierkegaard apenas durante os últimos anos de sua vida. Não há evidência em seus trabalhos de familiaridade com nenhum dos escritos do autor de Ou isto ou aquilo. Mas parece ser claro que as ideias de Kierkegaard impressionaram-no profundamente.”
Que Kierkegaard tenha sido uma influência fundamental no pensamento do filósofo russo Leon Shestov (1866-1939), que nos relata o episódio acima, não é novidade alguma. Mas que tenha sido o filósofo alemão Edmund Husserl (1859-1938) que, por assim dizer, os apresentara é, no mínimo, curioso. Embora Shestov pinte com cores demasiadamente fortes a diferença entre os pensamentos de Kierkegaard e de Husserl, é verdade que dificilmente os dois filósofos apareçam num mesmo contexto. Mas, se a caracterização de Kierkegaard por Shestov como um opositor da racionalidade e um apologeta do absurdo é exagerada, é fato que esses clichês conheceram vida longa no que diz respeito ao modo como o filósofo dinamarquês foi lido e compreendido. Exatamente por isso é que surpreende, de certa maneira, ver Husserl recomendando efusivamente a leitura de Kierkegaard.
Kierkegaard irracionalista?
A avaliação da contribuição
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