A morte da carne, da memória e da verdade
Edição do mêsO escritor Jr. Bellé, autor de Retorno ao ventre (Fábio H. Mendes)
Por volta de seus 40 anos, o premiado escritor Jr. Bellé, neto de avós paternos descendentes de italianos e alemães, ficou sabendo que, por parte de mãe, era descendente de índios. A revelação, conta ele, veio da tia Pedrolina que, num hospital de Curitiba, ao despertar subitamente de sua “noite de Alzheimer”, lhe disse ao vê-lo:
tu tem raiva nos olho que nem tua bisa meu fio / mas tu nem conheceu tua bisa né / e que nem nossa vó tua bisa era uma fiínha do mato / uma foínha verdinha dos primeiro tronco véio / vento soprô e levô ela embora / e como era a bisa? / não sei não minha tia disse / e quem sabe? / os morto meu fio tu tem que perguntá pros morto
Retorno ao ventre é resultado dessa busca. Um livro que doma nossa curiosidade pelo assunto à medida que se descobre a verdade dos fatos e transforma nossa curiosidade em profunda comoção. Os capítulos se sucedem alternando momentos de encontro, memória, partida, retorno, ora como poesia pura, ora como História, ora como informação, e são bilíngues, recuperando essa língua macro-jê em sua vertente falada nas terras do Paraná.
Os índios dos quais Jr. Bellé descende são os Kaingang, o terceiro agrupamento de índios brasileiros em termos de população. Pertencem ao grupo Jê, habitam o Paraná, o Rio Grande do Sul, Santa Catarina e São Paulo. Hoje, calcula-se que sejam aproximadamente 51 mil, distribuídos em 30 Terras Indígenas.
Eles tiveram contato com os brancos a partir do final do século 18. Esse “contato” se deu em meados do século 19: “Quando os primei
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