Misturas de culturas
Em seus quase 30 anos de atuação no Brasil, a Fundação Japão vem se empenhando em enviar jovens talentos, como bolsistas, ao Japão. Lá, cada qual se dedica à pesquisa no seu campo de especialidade e, quando retornam, são convidados a exibir sua experiência. É o que o diretor de Projetos Culturais da FJ, Jô Takahashi, chama de follow talk. Por ano, são desenvolvidos de 30 a 40 projetos. A seguir, alguns deles.
1) Camilo Carrara, violonista, compositor e arranjador formado em Música pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo, já fez várias apresentações na Fundação Japão, junto com o Trio Setó e Danilo Tomic, que toca a shakuhachi, flauta de bambu japonesa. Apaixonado pela singeleza e simplicidade das canções infantis japonesas, Camilo pesquisou arranjos com acordes de viola caipira. Em Mar de Histórias, ele apresenta uma releitura dos clássicos como Akatombo, Sakura, Momiji e Furusato. Recentemente, Camilo descobriu uma influência da cantiga de roda japonesa em obras do imortal Villa-Lobos. Pesquisando, descobriu que, numa de suas idas ao interior de São Paulo, o compositor teria se encantado com uma dessas cantigas. Camilo nota uma semelhança em trecho do “Prelúdio número 1”, de Villa-Lobos, com a cantiga “Mozuga Kareki de” (numa tradução livre, seria o Pássaro na Árvore Seca), que tem letra de Hatiro Sato e música de Shigueru Tokutomi. No momento, Camilo Carrara prepara-se para lançar, em fim de junho ou começo de julho, o CD Canção do Sol Nascente, com 24 faixas, pelo selo Azul Music.
2) Na área de música, ainda, a cantora de MPB Lica Ceccato, mais conhecida na Europa, por morar na Alemanha, pesquisou as onomatopéias, que são riquíssimas na língua japonesa, e adaptou-as à letra de uma música, em ritmo de rap. O “Japan Rap” foi gravado em 1994 e integrou o CD Music of the world, que faz parte da comemoração do cinqüentenário da Organização das Nações Unidas (ONU). Lica Ceccato tem feito apresentações da sua experiência em pocket shows, durante os quais conversa com o público, num programa interativo.
3) A vídeo-artista Rachel Rosalen defendeu, no ano passado, uma tese de mestrado em arquitetura, na qual analisou a relação da paisagem urbana de São Paulo com o erotismo. Sobre a gravação de um filme em vídeo que focaliza alamedas, avenidas e túneis, ela faz uma leitura erótica. Em tomadas de cenas no Minhocão (Elevado Costa e Silva), por exemplo, ela filmou as propagandas de calcinhas, cuecas e sutiãs que aparecem em cada curva e mesclou com cenas de sexo explícito. À convite da Fundação, Rachel foi para o Japão, para poder fazer a mesma experiência em Tóquio, considerada uma cidade bastante sensual. Até o século 18, contam, como exemplo, os mesmos artistas que pintavam figuras de samurais e gueixas em papel de arroz e dedicavam-se, clandestinamente, a fazer e vender gravuras eróticas e pornográficas. Rachel ficou lá por seis meses, já produziu e apresentou um vídeo na Embaixada do Brasil em Tóquio e vai exibi-lo em São Paulo, em maio. Em junho, ela volta a Tóquio por conta própria, para completar o trabalho.
4) Ângela Nagai, mestiça de pai japonês de Tóquio e mãe nordestina da Paraíba, é coreógrafa e pesquisadora de dança. Interessou-se pela umbanda aplicada à dança contemporânea e viu semelhanças no teatro Nô, que considera também uma dança dos espíritos. Ela cria coreografias a partir dessas inspirações.
5) Letícia Sekito, bailarina e coreógrafa, também é mestiça e vive em Sorocaba (SP). No workshop Rastros Mutantes no Corpo, leva o público a interagir na dança com um vasto campo de ação, misturando passos de dança com artes plásticas, fotografia e até origâmi. Ela tem feito apresentações em Centros Educacionais Unificados (Ceus) da Prefeitura de São Paulo, levando a arte a um público que normalmente não tem acesso à cultura.