Mimetismo: a vítima a favor do algoz
Edição do mêsQue interesse tem aquele que, na condição de vítima, defende o próprio algoz? (Arte Andreia Freire)
Muitos se espantam ao ver pessoas que são marcadas como minorias políticas dando seu apoio a personagens autoritários. O homossexual que defende o político homofóbico, a mulher que defende o machista, o pobre que defende o capitalista ou o trabalhador que defende quem tira seus direitos de trabalhador. O espanto está na falta de identidade de quem apoia com quem é apoiado. Precisamos distinguir a identidade de classe, raça, gênero, da identificação que, nesse caso, se constitui como projeção. Mesmo sem identidade, pode surgir a identificação. A submissão autoritária é uma forma de identificação que faz parte da história política. Na campanha eleitoral de 2018, ela veio à tona de maneira radical.
Perguntamos que interesse tem aquele que, na condição de vítima em potencial, defende o próprio algoz em potencial. O papel da ideologia está em convencer aquele que não se beneficia dela de transformar o engano em consenso. Chamaremos de vítimas aqueles que se encontram nessa posição inconsciente de adorar aquele que as odeia. Sadomasoquismo? Certamente, mas não só. De fato, as vítimas em potencial não sabem o que fazem. No extremo se tornam fascistas se seu líder autoritário adorado for um.
De uma forma que parece autocontraditória, a vítima “não idêntica” busca imitar seu algoz. Animais que aprendem por imitação, somos, em todas as áreas da vida, praticantes de um comportamento mimético fácil de reconhecer. Aprendemos a falar, a sorrir e a chorar, a cantar e dançar por meio de repetições que imitam gestos bási
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