Como a mídia mascara a compreensão dos fenômenos da economia

Como a mídia mascara a compreensão dos fenômenos da economia
Nos comentários sobre economia, usa-se a ideologia com o nítido objetivo de impedir a compreensão (Arte Andreia Freire)

 

Na terça (1) celebrou-se mais um Dia do Trabalhador, data criada pelo movimento operário internacional para celebrar a histórica greve de Chicago de 1886 que lutava pelas 40 horas semanais. Tudo caminhava para que a data fosse marcada por protestos contra a prisão do ex-presidente Lula e contra a reforma trabalhista. E, evidentemente, também por protestos contra o aumento do desemprego, que chegou a 13,1% da População Economicamente Ativa, ou 14 milhões de desempregados. Um desmentido cruel às promessas de aumento dos empregos com o fim dos direitos trabalhistas. A reforma trabalhista tirou direitos e não deu empregos.

Mas não foi esse o tom do noticiário econômico. Comentaristas e analistas econômicos fazem verdadeiros malabarismos retóricos e argumentativos para dizer que a economia vai bem e está se recuperando. Em geral, estes argumentos têm como ideia central que uma gestão econômica eficiente é aquela que libera os “agentes econômicos” (leia-se, o capital). Portanto, o único sujeito que dificulta o crescimento econômico e amplifica os problemas sociais é o Estado.

No blog Por que? do portal UOL – que se apresenta como um espaço onde “especialistas traduzem o economês do seu dia a dia, mostrando que economia pode ser simples e divertida”, a afirmação é que estes 14 milhões de desempregados pagam um custo altíssimo “pelas escolhas feitas na última década”. O período em que a economia brasileira ia bem é chamado pelo autor do texto no blog de momento em que “a maré estava favorável”.

Veja que interessante: a economia estava bem não por resultado de uma determinada política econômica, mas porque a “maré (algo indefinido, produto de um acaso ou de uma força não controlada por decisões) estava favorável”.

E aí o texto do blog que pretende explicar economia de uma forma acessível diz que, neste momento de maré favorável, foram tomadas decisões erradas – gastou-se muito (e uma das “gastanças” foi o reajuste dos valores das aposentadorias!) – e, por conta disto, vive-se este drama de desemprego. Em outras palavras, o problema atual não é fruto de uma política econômica equivocada do governo de plantão, mas vem do fato de que, durante um período melhor (garantido por uma maré e não pela política econômica do governo anterior), gastou-se muito (e, então, a política econômica do governo anterior estava errada e gerou os efeitos danosos na contemporaneidade).

Um raciocínio que constrói uma inversão lógica admirável, típica dos sofistas pré-socráticos. Os pensadores da Escola de Frankfurt, em particular Adorno e Horkheimer, afirmavam que a ideologia era falsa consciência, era um construto lógico que tinha como objetivo mascarar e impedir a compreensão dos fenômenos que, segundo eles, só poderia ser realizado a partir da teoria. Este é um grande exemplo da manifestação da ideologia com o nítido objetivo de impedir a compreensão.

(1) Comentário

  1. As grandes mídias naturalmente são favoráveis aos governantes truculentos de plantão e costumazes, certo que muitos meios de comunicação são dos ricos e, defendem eles com suas mentiras…

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