Meu primeiro acampamento

Meu primeiro acampamento
(Ilustração: @photo.jaksys)

 

Em meados de 2000 quando estava com os meus 26 anos, pus na cabeça de servir ao Exército Brasileiro, uma instituição muito séria para mim. Pela minha idade, não poderia me colocar à disposição daquela instituição ainda, mas comecei a me preparar para tal acontecimento. Meu pai sempre me incentivou e falou que eu já tinha que ir me acostumando com o regime militar. Então comecei em casa a tomar banho gelado, pois tive informações de que no quartel não existia banho quente. Em busca de uma melhor forma física, entrei em uma academia de musculação para a preparação do meu tão esperado sonho.

Em 2003, após muitas seletivas vencidas, consegui a minha vaga naquela instituição. Eu não era mais conhecido pelo nome, e sim por um número que me deram por ordem alfabética: 367. Ali me senti um verdadeiro soldado do então 12GAC, ou 12° Grupo de Artilharia de Campanha. O primeiro soldado dentre os meus familiares, orgulho do meu pai. Ficamos no internato durante um mês. Ali vi realmente que era o lugar onde “o filho chora e a mãe não vê”. Fique todo esse tempo sem contato com a família, sequestrado, como diziam. Após o tempo no internato, finalmente voltei para a casa. Minha mãe, ao me ver, começou a chorar, dizendo: “Estão judiando de você, olha como você está magro, não volte mais para lá”. Então expliquei que o pior já havia passado e que eu tinha me acostumado com o “ralo” que era dado aos recrutas e que agora as coisas iriam melhorar.

Após três meses participei da minha primeira marcha militar. Colocamos tudo o que se precisava para ficar acampados por alguns dias. Na mochila de combate coloquei o meu saco de dormir, um par de coturnos, um par de uniforme, jaleco e calça, uma manta e só. Nenhuma guloseima para comer. No cinto tinha o meu cantil, um farolete “lanterna” e um canivete. Na mão, meu porta-baioneta com um fuzil 762 com um carregador para 20 munições.

Após doze quilômetros, chegamos a um descampado por volta das 17h, e recebemos a ordem do capitão de que iríamos avançar ao rancho e montar nosso bivaques “cabanas inpiduais”. Eu estava exausto e com três bolhas que se formaram nos meus pés, mas ainda tinha que vencer aquele teste. Durante a noite tivemos várias instruções, como decifrar de onde vinha o barulho e como nos camuflarmos para ficar o mais escondidos possível. Ao final das instruções, quando pensei que iria tirar todo aquele peso de mim e poder descansar, veio a ordem do sargento com a escala na mão, anunciando os sentinelas. Peguei o pior horário, que é das 2h às 4h. Tinha que ficar andando em volta do acampamento. Voltamos ao quartel onde fomos elogiados pelo coronel por nossa garra e resistência. Ali sim senti que fazia parte do Exército Brasileiro. Braço forte, mão amiga.

Rafael Oliveira é pai de três crianças, casado com uma militar. Começou a escrever no projeto Café Literário.


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