Matar e deixar morrer: o Brasil das prisões

Matar e deixar morrer: o Brasil das prisões
(Colagem: Laura Teixeira)
  Arrisquemos uma afirmação: o Brasil das prisões é a expressão contemporânea que melhor traduz nossa história. Se pensarmos em termos retrospectivos, as prisões são um legado concreto – monumento atemporal – de nossa tradição colonial. Isso nos interpela a observá-las como herança da escravização dos povos africanos, do genocídio dos povos tradicionais, das pacificações violentas como política de ocupação de corpos e territórios. Em resumo, como processos racionais que legitimam e gerenciam a produção de morte.  As prisões do Brasil não são espaços desarticulados da administração político-social cotidiana, a seu modo estão profundamente entrelaçadas às dinâmicas das pessoas que nelas transitam, extra e intramuros, num continuum inseparável pela fronteira física. Quando pensamos nesses espaços como um locus próprio, cuja distância de nós pode ser medida pela cor da pele, precisamos encará-los como lugares de passagem vitais para um número incalculável de pessoas, revelando que no Brasil das prisões há um traço fundamental a se verificar além dos números: a centralidade que o sistema prisional ocupa numa economia impulsionada pelo tráfico de drogas, na organização familiar das periferias, nos complexos arranjos financeiros das facções, na produção e comercialização de alimentos e produtos básicos. Sem esquecer que o controle de rebeliões, por meio de afetos e relações interpessoais, é um dos dispositivos que, não raro, garantem a estabilidade em seu interior.  Essas questões são importantes

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