O ridículo político
A filósofa Marcia Tiburi (Foto Simone Marinho / Divulgação)
Aceitamos com facilidade a ideia de que rir é melhor do que chorar, que a comédia é melhor do que a tragédia. Em todas as culturas, o gesto de rir está imediatamente associado ao prazer, enquanto o gesto de chorar está associado ao desprazer. Muitas vezes, contudo, rir e chorar alternam sentidos e mesmo se confundem.
O riso é uma questão primeiramente estética relativa ao prazer dos sentidos e da percepção. Mas há também uma espécie de moral do riso. Quando fazemos graça, se apostamos no chiste, desejamos que os outros riam na gradação adequada ao mote. A qualidade do humor relaciona-se ao conteúdo e à forma com que é expresso, e fica visível na expressão do riso. Uma gargalhada não cai bem diante de uma piada interna ou de uma ironia, do mesmo modo que um riso amarelo diante de um comediante profissional é sinal de fracasso. O prazer cognitivo também é fundamental à experiência do riso. Não entender uma piada pode ser sinal de estupidez mais do que de desgosto. Ora, o riso é uma espécie de ápice de prazer que surge pela percepção de uma narrativa ou de uma imagem em que se combinam tanto aspectos relacionados à inteligência do provocador do riso quanto de seu receptor.
As questões estéticas e éticas se entrelaçam a esses aspectos cognitivos relacionados ao conhecimento. O melhor humor pode ser considerado aquele em que tais aspectos se combinam harmoniosamente para produzir uma espécie de insight. Porém, do mesmo modo que um vinho fino toca a paladares mais raros, educados estética, ética e cognitivamente, o bom humor
Assine a Revista Cult e
tenha acesso a conteúdos exclusivos
Assinar »