O que foi feito da coragem?

O que foi feito da coragem?
A colunista Marcia Tiburi (Foto: Simone Marinho/ Divulgação)
Para Rubens Cada época tem seu páthos, uma espécie de energia psíquica que determina formas de agir e de pensar. O ódio, que tem servido para explicar gestos e ações violentos, é produzido e reproduzido socialmente por meio de discursos imagéticos e verbais cuja base é o medo. Tanto o arcaico medo do inferno quanto o mais contemporâneo medo do terrorismo encontram expressão no ódio. É como se o ódio fosse uma espécie de segurança, uma proteção imediata contra o que mete medo. A expressividade do ódio sob as condições atuais – uma vida rebaixada a mercado e compensada na internet – é a expressão da covardia. Temos um encontro marcado com ela nas redes sociais nas quais gestos como o xingamento são promovidos por autores ocultos atrás do escudo virtual. Na analógica vida cotidiana, os exemplos são muitos. Desde homens que batem em mulheres até uma imprensa que mente e um judiciário desleal à própria constituição; tudo o que vivemos em termos de opressão e dominação pode ser lido à luz da questão da covardia. Um efeito do medo que serve para fingir que ele próprio não existe. Na vida política, o golpe ultrainstitucional que vimos acontecer no Brasil recente é a prova da vigência da covardia como um páthos inevitável em nossa época de afetos manipulados. O paradigma antropofágico Perguntar o que foi feito da coragem não é apenas uma provocação filosófica, é uma exigência – ou urgência – genealógica de nosso tempo. No processo de esfriamento do conhecimento, o elogio das virtudes foi sendo apagado, como t

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