Máquina de produzir fascistas
A filósofa Marcia Tiburi (Foto Simone Marinho / Divulgação)
Diante dos discursos de ódio que, de tempos em tempos, assumem expressão social, aqueles que não partilham do mesmo afeto colocam-se a perguntar acerca de sua origem. Chamamos de ódio o afeto que se expressa como intolerância, violência projetiva ou, no extremo, declaração de morte ao outro. Pensamos que alguém – um Hitler qualquer – aciona o botão do ódio que liga a máquina de produzir fascistas à qual a sociedade está condenada. Essa máquina é a engrenagem organizada, uma espécie de dispositivo, que se utiliza do afeto odiento na orquestração do delírio coletivo ao qual a sociedade mesma é rebaixada. Assim se consegue a aniquilação da sociedade, do senso do social que poderia acordar o próprio fascista do ódio delirante no qual ele foi envolvido como indivíduo, acreditando que nesse afeto está a verdade de sua experiência.
Podemos definir o ódio como uma emoção. Como algo passional. Daí a impressão, no âmbito de suas manifestações, de que ele seja um afeto primitivo e não cultural, que seja selvagem e não civilizado. A expressão do ódio parece, para muitos, a irrupção de algo irracional no seio de uma sociedade razoável. Por isso, tendemos a vê-lo como algo de arcaico. No entanto, se o ódio irrompe no seio da sociedade civilizada é porque, de algum modo, ele é parte dessa sociedade.
Afeto contagioso
A pergunta pela origem do ódio não pode ser respondida senão pelo recurso ao círculo vicioso que explica o surgimento de qualquer afeto: é o sentimento experimentado que gera o que é sentido. Isso quer diz
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