Manifesto da oralidade
foto: Luís Costa
Em meio a um vaivém de repórteres e fotógrafos, Ailton Krenak caminhava desenvolto pelos salões do Centro Cultural Banco do Brasil, no Rio de Janeiro, na tarde do último dia 27 de fevereiro. A exposição fotográfica “Hiromi Nagakura até a Amazônia com Ailton Krenak” chegava ao Rio depois de temporada no Instituto Tomie Ohtake, em São Paulo
Brincalhão, com gestos expansivos e sorriso largo, Ailton se divertia ao lembrar os bastidores de algumas das fotos do périplo amazônico com o fotógrafo japonês, como a cena em que põe um cesto redondo atrás cabeça, querendo imitar a aura de um São Sebastião.
O jeito descontraído contrastava com o semblante constrito com que apareceu para o país em setembro de 1987 na tribuna do Congresso Nacional: cobrindo o rosto com a tinta preta do jenipapo, o jovem Ailton Krenak – já uma liderança, fundador do Núcleo de Cultura Indígena – discursou durante a Assembleia Nacional Constituinte em defesa da autonomia dos povos originários.
Aos 70 anos, Ailton Krenak continua em defesa dos seus. Naquela tarde, ele caminhava por entre imagens de crianças, mães e anciãos, revelados pelas lentes do amigo Nagakura – figura risonha como ele naquele dia. Os dois celebravam a amizade nascida há três décadas em uma conversa sobre esteiras na sede da Aliança dos Povos da Floresta, no Butantã, em São Paulo, quando a intérprete Eliza Otsuka apresentou a Ailton o plano de viagens do fotógrafo japonês.
“Ailton e eu temos um coração de criança”, disse-nos Nagakura, um fotojornalista que perco
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