Leituras drummondianas

Leituras drummondianas
O poeta Carlos Drummond de Andrade (Reprodução)

 

Para quem pouco conhece da obra de Drummond, há atualmente nas livrarias quase todos os seus livros publicados e reeditados. Recentemente foi publicada a sua poesia completa pela Editora Nova Aguilar, em papel bíblia. Este volume contém desde Alguma poesia (livro de 1930) até seus últimos livros e coletâneas de poemas diversos que haviam sido publicados esparsamente. Além dessa edição, a editora Record, que detém atualmente os direitos autorais de obra de Carlos Drummond de Andrade, vem reeditando toda a sua poesia e prosa em volumes separados. Cada volume traz uma breve apresentação elaborada por escritores e críticos literários. A grande graça dessa coleção são as capas, que trazem uma foto do poeta da mesma época em que o livro foi escrito. Estas edições também incluem uma bibliografia básica sobre o poeta e uma cronologia de sua vida.

Para os que quiserem compreender melhor a obra de Drummond, o caminho é percorrer a sua fortuna crítica, que não é pequena (razão pela qual indicamos aqui apenas alguns títulos de destaque). Uma obra fundamental é Verso, universo em Drummond, de José Guilherme Merquior, livro publicado originalmente em 1975 e que está sendo reeditado pela Topbooks. Trata-se de uma investigação de fôlego do verso drummondiano, escrita por aquele que foi um dos nossos maiores críticos literários.

Outro título geral é Poesia e poética de Carlos Drummond de Andrade, do crítico inglês John Gledson, editado no Brasil em 1981 pela editora Duas Cidades. O livro faz uma apreciação de poesia de Drummond desde o início, buscando interpretar seus primeiros escritos (tanto em poesia quanto em crítica, atividade que Drummond exerceu ativamente no começo de sua trajetória), flagrando as modificações pelas quais sua poesia passa através do tempo.

Também se destacam, entre as obras de referência, Drummond, o gauche do tempo, de Affonso Romano de Sant’Anna (do Instituto Nacional do Livro) e Lira & Antilira (Mário, Drummond e Cabral), de Luiz Costa Lima (recentemente reeditado pela Topbooks). Outro clássico dos estudos drummondianos é Drummond, a estilística da repetição, de Gilberto Mendonça Teles.

Numa vertente mais didática, indicada aos estudantes e aos que pouco ou nada conhecem do poeta mineiro, há ainda o volume sobre Carlos Drummond de Andrade, da coleção Folha Explica, escrito por Francisco Achcar. Neste livro, o autor apresenta, de forma breve, um roteiro de leitura da produção poética de Drummond de Alguma poesia aos seus últimos livros.

Alguns estudos específicos trabalham com momentos chave ou traços marcantes da poética de Drummond, como é o caso de Drummond, uma poética do risco, de Iumna Maria Simon (Ática), que analisa A rosa do povo, e ainda os livros recém-lançados de Marlene de Castro Correia, Davi Arrigucci Jr. e Vagner Camilo.

Há ainda três ensaios que não devem jamais ficar de fora de uma bibliografia básica de Drummond. O primeiro é “Rebelião e convenção”, de Sérgio Buarque de Holanda, publicado no livro Cobra de vidro (Editora Perspectiva). Este ensaio, que tem como objeto de reflexão o livro Claro enigma, é uma dessas jóias da crítica literária brasileira, pela sua objetividade e clareza nas demonstrações. Na mesma linha de estudo fundamental, é de Antonio Candido um ensaio básico para quem quer compreender melhor a poesia de Drummond: “Inquietudes na poesia de Drummond” (incluído em Vários escritos, Livraria Duas Cidades). Outro ensaio é “‘A máquina do mundo’ entre o símbolo e a alegoria”, de Alfredo Bosi, incluído em Céu, inferno, que palmilha calmamente cada momento desse extenso poema de Claro enigma.

Sobre a biografia do poeta, há pelos menos dois livros na praça que cumprem perfeitamente este papel. O primeiro é a biografia Os sapatos de Orfeu, de José Maria Cançado (Editora Scritta), mas que incorre em alguns momentos num certo desvio de querer “psicanalisar” o biografado. Há ainda O dossiê Drummond, de Geneton Moraes Neto (Editora Globo) que tem a vantagem de estampar a última entrevista do poeta e uma conversa inédita entre Drummond e Lígia Fernandes (que foi sua namorada por mais de trinta anos). Além disso, Geneton entrevistou também vários companheiros e amigos de Drummond, criando uma biografia fragmentada, mas muito bem articulada, montada em torno de blocos de depoimentos que dão ao leitor uma nítida imagem de quem foi Carlos Drummond de Andrade.

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