Kierkegaard e a histeria do espírito

Kierkegaard e a histeria do espírito
Estátua de Kierkegaard em Copenhague, na Dinamarca (Reprodução)
  Nero, o imperador romano, sofria, segundo Kierkegaard, de algo que poderíamos designar como uma “histeria do espírito”: malgrado seu saber e sua experiência, Nero nunca deixou de ser um crianção. E – o que é pior –, nesse seu infantilismo, tornou-se o protótipo de grande parte dos humanos. A histeria do espírito instiga Kierkegaard, que se esforça por desvendar seu mecanismo. No caso de Nero, embora o imperador tudo se permitisse – chegando mesmo à saciedade dos prazeres –, ele experimentava sempre o desejo de algo mais, sem admitir a hipótese de esse desejo insaciável poder ser uma força espiritual contida e que, uma vez liberada, poderia irromper de seu interior e lhe dar saciedade definitiva. A falta, no dizer de Kierkegaard, nunca pode satisfazer a angústia. Na verdade, para escapar à angústia, a falta termina também por angustiar, e é desse mecanismo aprisionante que terá nascido a legendária crueldade de Nero. O incêndio da cidade de Roma, no dinamismo da volúpia imperial, não passara de apenas mais um ímpeto em busca de prazer. A procura interminável de satisfação pelo prazer indica, segundo o filósofo de Copenhague, que o espírito de Nero não se distancia do imediato, apegando-se à certeza que sua experiência estética lhe proporciona. No entanto, a falta que o angustia reclama, na verdade, um distanciamento, uma eclosão, uma forma de vida “superior” que avance para outras maneiras de realização de si. O imperador, porém, sentindo essa pressão e pulsão interior, vê se desfazer, diante de si, o se

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