A inveja em Melanie Klein
A psicanalista Melanie Klein em foto de 1945 (Foto: Wellcome Collection)
A inveja surge da inevitável margem de insatisfação que acompanha todas as experiências depois do nascimento, proveniente das falhas e faltas do ambiente que contribuem para potencializar os sentimentos de insatisfação e ressentimento. A insaciabilidade do desejo, o fato de que no plano do desejo queremos sempre mais e mais, indefinidamente, se choca com os limites que a realidade impõe, limites que podemos chamar de “rocha da castração”, isto é, o fato de que os bens que podemos receber do mundo estarão sempre em um desencontro maior ou menor com a amplitude de nossas expectativas
Esta fenda entre o desejo e a falta, que faz parte da própria estrutura do desejo, gera um sentimento de inveja das fontes de fontes de vida: alimentos, amor, palavras justas e segurança. Em vez de recebermos e sentirmos gratidão, gostaríamos de possuir a fonte da própria vida, que nos garantisse eliminar a experiência da falta. Esta é a essência da inveja, como escreve Melanie Klein em Envy and Gratitude, publicado em 1957:
“Meu trabalho ensinou-me que o primeiro objeto a ser invejado é o seio nutridor, pois o bebê sente que o seio possui tudo o que ele deseja e que tem um fluxo ilimitado de leite e amor que guarda para sua própria gratificação: assim é o primeiro objeto a ser invejado pela criança. Esse sentimento soma-se a seu ressentimento e ódio e o resultado é uma relação perturbada com a mãe ” (grifos meus).
Continua a autora: “Não presumiria que, para ele (o bebê), o seio seja simplesmente um objeto físico. A totalidade
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