Inoperosidade e atividade humana
(Arte Revista Cult)
1. Na seção final do VIII capítulo, ou seja, no verdadeiro coração teorético de O reino e a glória, Giorgio Agamben conclui a sua ampla indagação arqueológica sobre a glória e a glorificação avançando até o lugar onde Reino e Governo, teologia e economia – ou, na verdade, teologia política e teologia econômica, direito estatal e dispositivos sicuritários – revelam seus ocultos parentescos, para aparecer, por fim, como “as faces de uma mesma máquina do poder”. Nas últimas, densas frases de um tratado que, dos estudos sobre as aclamações de Alföldi, de Kantorowicz e de Peterson se move ora entre Durkheim, Mauss e Mopsik de um lado e Hölderlin, Rilke e Mallarmé do outro, todas as linhas da grande obra, as mais ricas de erudição e as menos evidentes e mais impenetráveis, convergem de fato em torno de uma única imagem, aquela do trono vazio, a heitomasia tou thronou, que Agamben lê como símbolo não da realeza, mas, em âmbito tanto profano quanto religioso, da “vacuidade central da glória”, da essência mesma da glória ou da inoperosidade feliz. Le trône n’est qu’un fauteuil vide , poder-se-ia, aqui, glosar, invertendo a frase famosa de Guizot. Ocorre, porém, acrescentar que este vazio corresponde a uma condição de todo particular: trata-se do estádio, posterior ao Juízo, do “sabatismo elevado à potência”, que, na sua “tentativa balbuciante de pensar o impensável”, Agostinho define diversamente como uma paz sem necessidades ou acédia, como tempo do fim e ao mesmo tempo do “vacabimus in aeterno”. Tr
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