A hora da escritora
A escritora Guiomar de Grammont (Divulgação)
Guiomar de Grammont tomou um susto ao encontrar a neta de dez anos compenetrada nas páginas de um livro. Não foi o ato em si que a espantou – uma vez que a menina, já havia alguns anos, adquirira o hábito de devorar todas as obras que conseguisse alcançar nas abarrotadas estantes da biblioteca da casa da avó –, mas a preferência literária da criança, que lia Os sofrimentos do jovem Werther, de Goethe, como se tivesse em mãos Reinações de Narizinho, de Monteiro Lobato. Assim como fariam nove entre dez avós, ela confiscou o exemplar do melancólico romance alemão sobre um amor platônico que termina em suicídio; no entanto, ela – que nunca foi grande amiga das convenções, que publicava livros de poesia, fumava charutos e fundou uma universidade quando a sociedade lhe dizia que era de bom tom ficar em casa – decidiu devolver a obra-prima romântica à pequena Guiomar, que anos depois também dedicaria sua vida à literatura.
“Minha avó paterna era meu modelo; uma mulher muito forte, culta e ousada. Por ter o mesmo nome que ela, já sabia que não seria outra coisa senão escritora”, afirma Guiomar, em conversa por Skype, de sua casa em Ouro Preto, cidade histórica do interior de Minas Gerais. De fala mansa e sonora, subindo o tom na última palavra de cada frase, ela se expressa com a mais característica musicalidade mineira. Os olhos, gentis, fixam-se na câmera no topo da tela em vez de se desviarem para baixo, distraídos por pixels. A impressão é de ser olhado nos olhos, quase como em uma entrevista presencial.
Tendo lançado rec
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