Pressão por representatividade em Hollywood não foi bem sucedida, conclui estudo
Cena do filme 'Estrelas além do tempo', de Theodor Melfi, 2017 (Reprodução)
Em 2016, o Oscar foi marcado por protestos. O motivo: faltavam profissionais negros entre os indicados da premiação. No ano seguinte, em compensação, a representatividade dentro da premiação cresceu – entre os indicados a melhor filme, por exemplo, Moonlight e Estrelas Além do Tempo eram protagonizados por atores negros; entre os melhores atores, estavam Denzel Washington, Ruth Negga e Mahershala Ali; e entre os cotados para melhor diretor, Barry Jenkins, de Moonlight .
Mesmo assim, Hollywood ainda está longe de representar a diversidade de forma realista. A conclusão é de um estudo da Faculdade de Comunicação da Universidade do Sul da Califórnia, que analisou 900 dos filmes mais populares lançados entre 2007 e 2016 – e notou que, de lá para cá, pouco mudou. Homens brancos, heterossexuais e não portadores de deficiência continuam sendo os protagonistas da maior parte das produções.
Entre os cem filmes mais populares de 2016, por exemplo, só 31,4% dos personagens com falas eram mulheres. Isso sendo que, em metade das 100 produções estudadas, personagens femininas negras simplesmente não tinham falas – e apenas em um terço as asiáticas diziam qualquer coisa.
O problema não é apenas a opressão de gênero: só 29,1% dos personagens não-brancos tinham falas nos longas analisados (13,6% eram negros, 5,7% eram asiáticos e 3,1%, latinos), um número que cai para 2,7% quando se tratava de personagens com tipo de deficiência e para 1,1% quando o foco eram gays, lésbicas ou bissexuais.
Além disso, em nenhum dos filmes de 2016 havia personagens transgêneros com falas – e apenas um deles havia um protagonista gay: Moonlight, vencedor do prêmio de melhor filme neste ano. Autora do estudo, Stacy L. Smith afirmou que o problema da sub-representação em Hollywood é sistêmico. “É impossível olhar para esses dados sem concluir que a pressão em volta do tema da representação nos últimos anos não foi bem sucedida”, afirmou.
Diversidade vende
Aumentar a participação de minorias nos filmes, além de ser importante para diminuir opressões como o racismo e o machismo, pode trazer outro efeito: melhorar a captação dos filmes. Em junho, um estudo da Creative Artists Agency (CAA) mostrou que produções recentes com elencos mais diversos resultaram em sucessos maiores nas bilheterias nas estreias.
A pesquisa analisou a diversidade em duas frentes: a do público e a representada nos filmes lançados entre 2014 e 2016. Segundo o estudo, nos Estados Unidos, 49% das plateias era composta por pessoas não-brancas em 2016 (em 2015, este número era 45%, o que mostra que ele vem crescendo aos poucos).
Ao mesmo tempo, a CAA catalogou a etnia de 2.800 personagens principais de 413 filmes lançados entre 2014 a 2016. Apenas 30% dos filmes tinham elencos que a CAA considerou “realmente diversos” (com pelo menos 38% dos atores não brancos) – mas mesmo assim, estes longas tiveram, em geral, mais sucesso nas bilheterias do que os com elencos pouco diversos: em média, produções mais diversas renderam 31 milhões de dólares na estreia, enquanto os pouco diversos teriam arrecadado menos da metade disso, doze milhões.
A conclusão do estudo foi que uma plateia mais diversa, que tem crescido cada vez mais nos cinemas, se interessa mais por filmes com atores negros, mulheres e LGBTs, por exemplo, do que por longas que representam apenas pessoas brancas e do sexo masculino.
A CAA dá exemplos desses sucessos diversos: Corra, de Jordan Peele, que arrecadou 250 milhões de dólares no mundo todo, e Estrelas Além do Tempo, de Theodore Melfi, que faturou 230 milhões. Já Star Wars – o despertar da força, protagonizado por John Boyega, bateu o recorde de arrecadação absoluta que antes pertencia a Avatar: 758 milhões de dólares.