Hannah Beachler: Há audiência para essas histórias, então vamos contá-las

Hannah Beachler: Há audiência para essas histórias, então vamos contá-las
A diretora de arte Hannah Beachler, 46 (Foto: Brian Douglas)

 

Filmado em vinte e cinco dias, Moonlight, de Barry Jenkins, custou menos que um anúncio publicitário de trinta segundos durante o Oscar. Levou as estatuetas de melhor filme, melhor ator coadjuvante para Mahershala Ali e melhor roteiro adaptado. Faturou mais de 27 milhões de dólares nos cinemas norte-americanos e, logo após a cerimônia, passou a ser exibido em 1.500 salas no país.

Para a diretora de arte do filme, Hannah Beachler, 46, resultados assim contribuem para tornar mais diversas não apenas as histórias contadas por Hollywood, mas as equipes que trabalham atrás das câmeras. Já que é o dinheiro quem manda na indústria do entretenimento, o jeito é provar que essas narrativas são, sim, comercialmente viáveis.

“Pense em Moonlight, Get Out, Creed, Lemonade, Um Limite Entre Nós [Fences], Estrelas Além do Tempo [Hidden figures], Lion, Selma. Eles são viáveis. Não é muito no esquema das coisas, mas é um início”, afirma. “Tive todo tipo de gente me puxando de canto para dizer que haviam ficado realmente comovidas com Moonlight. Pessoas com os mais diferentes estilos de vida podem se identificar com essas histórias.”

Cena de ‘Moonlight’, de Barry Jenkins (Foto: Divulgação)

Relatório mais recente do Centro de Estudos Afro-Americanos da UCLA mostra que, de fato, diversidade vende. Ainda que haja sub-representação especialmente de mulheres e de pessoas negras em papéis principais e em posições de poder na indústria do entretenimento, números coletados entre 2011 e 2015 atestam que filmes e programas de TV que possuem elencos mais diversos tendem a se sair melhor nas bilheterias e em medições de audiência.

A raiz do problema, segundo o estudo, é que poderosos da indústria se recusam a ceder espaço a homens e mulheres com experiências que lhes dão as perspectivas necessárias para se conectarem de maneira mais eficaz com o público. O relatório analisou 165 filmes lançados em 2015, ano em que quase 40% da população dos Estados Unidos era composta por minorias.

“Alguém me perguntou recentemente quantas mulheres e homens negros estavam fazendo o que eu faço no mundo. Levei um segundo para responder. Não porque eu não soubesse o que dizer, mas porque a resposta era ‘um’. A mistura de emoções que senti ao dizer isso foi esmagadora”, conta, referindo-se a Toni Barton, que produziu alguns episódios de Luke Cage, série da Netflix baseada no personagem homônimo da Marvel.

Antes de aceitar o convite de Barry Jenkins para criar o visual de Moonlight, Beachler já havia trabalhado em Fruitvale Station (2013), Creed (2015), ambos de Ryan Coogler, e Lemonade (2016), álbum visual de Beyoncé – “ela é mesmo tão incrível quanto você pode imaginar”, diz.

Umas das únicas mulheres negras a desempenhar essa função em grandes produções internacionais, Beachler diz sentir a responsabilidade de abrir portas para que novas gerações de mulheres e homens negros saibam que essa é uma possibilidade real de trabalho. “Sei que posso influenciar pessoas dos dois lados da cerca e quero que eles saibam que esse sonho, essa vida, esse ofício não está fora de alcance”, afirma.

Atualmente Hannah trabalha no set do filme Pantera Negra, próximo lançamento da Marvel dirigido por Ryan Croogler. Ela se anima ao falar de Beyoncé e se diz “abençoada” por ter participado de algo tão inovador quanto Moonlight. “Acredito que foi um ponto de virada na indústria. Novamente, há audiência para essas histórias, então vamos contá-las.”

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