Herdemos Clarice

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Herdemos Clarice
A escritora Clarice Lispector (Foto Acervo Revista Manchete)
  Tive dois encontros com Clarice Lispector; dois, com o que se chama seu corpo, esse que escapa, mas que a gente vê encontrar-se ali e próximo e, no caso, de modo inacreditável; nomeio tal de: a pessoa Clarice; mas com o corpo literal-matéria-escrita-obra-arte-saber e voz secreta, ou seja, como o fantasma-bom-fantasma de Clarice, desde talvez os 15 anos até a minha morte, pois como ela disse, repito: também eu “estou falando do túmulo”; estamos no túmulo-Brasil, onde houve a glória Clarice. . Talvez tivesse eu uns quinze anos quando me deparei com algum texto escrito por uma certa Clarice Lispector; por mais que queira não consigo lembrar-me de qual texto: todos os textos de Clarice vão e voltam diferidos em modos de escrita vários (ela faz isso) e vão e voltam no escuro em mim e isso ainda insistentemente depois que colhi frases da obra total, no que resultaram dois livros; não sei se primeiramente o impacto de a ler ocorreu na escola ou em contato com ela-em-escrita, em alguma revista Senhor; nessa época, preciso dizer, já me julgava como tendo um destino de homem-que-escreve; aos nove, uns cem mil poemimhas em cem mil papeizinhos (Clarice escreveu sobre trilhões de) que me perseguiram até o facebook, minha atual gaveta-de-retalhos pública; pois então: li, chamemos assim, algo de Clarice que bombardeou minha ideia de escrita e minha ideia de como dizer algo sobre algo para alguém que não existe senão na necessidade de se criar alguém para ter a quem dizer algo, e algo que traga em si justamente aquilo que está fora do algo dito,

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