Há 50 anos era assassinado Luiz Eurico Tejera Lisbôa pela ditadura militar

Há 50 anos era assassinado Luiz Eurico Tejera Lisbôa pela ditadura militar

 

“Não entendem que nós buscamos, em última análise, as condições ideais para o amor”, escrevia o militante Luiz Eurico em carta à sua esposa Suzana Lisboa.

Nascido em Porto União, em Santa Catarina, em 1948, Luiz Eurico envolveu-se desde cedo com a militância política: aos 15 anos, quando ocorreu o golpe militar, escreveu um manifesto contra a Ditadura para distribuir em sua cidade.

Ameaçado por um professor, mudou-se para Porto Alegre, onde integrou a Juventude Estudantil Católica (JEC). Desde 1967, foi detido no DOPS em diversas circunstâncias. Com o endurecimento da Ditadura, passou a militar na VAR-Palmares e a seguir a Ação Libertadora Nacional (ALN).

Depois de uma viagem para Cuba, foi para São Paulo, onde foi assassinato em setembro de 1972, aos 24 anos, na pensão em que morava. Ficou desaparecido por sete anos, até que sua mulher encontrou seu corpo, enterrado com o nome Nelson Bueno, na vala do cemitério de Perus, em São Paulo.

Apenas em 1979 seu corpo foi encontrado. Em 1981, veio a certidão de óbito com a real causa de sua morte: “hemorragia cerebral traumática”.

Em seu poema “Ao Suzico”, lemos a justificação de Luiz Eurico a um hipotético filho, explicando-lhe por que se envolveu na militância e a relação entre política e poesia:

Meu filho
Escrevo agora estes versos para que
saibas algum dia
que estas mãos que empunham a
metralha
e semeiam a morte
este olhar resoluto de soldado
têm algo mais que o impulso
mercenário
e o querer individual
para que saibas que estas mãos
escreveram versos
que estes olhos vislumbraram
a beleza de um outro dia
e este peito coberto de cicatrizes
já abrigou a paixão e o amor
para que saibas
que desde o primeiro passo
fui presa até a última fibra
da poesia
E que a metralha e a luta
são em tempo certo
o meu maior poema
a grande mensagem de um artista.

Apesar de seu assassinato precoce pelos militares, Luiz Eurico deixou quase 40 poemas sobre a militância, o amor, suas dúvidas e descobertas, um manifesto político e cartas à sua esposa, Suzana Lisboa.

Em 1999, esses escritos foram pela primeira vez reunidos no livro Condições ideais de amor: poemas, manifestos e correspondência de um poeta guerrilheiro, publicado com organização de Antonio Hohlfeldt. No ano em que se relembra 50 anos de seu assassinato covarde, a editora Sulinas relançou a obra.

Dois poemas de Luiz Eurico Tejera Lisbôa também estão publicados em Poemas para exumar a história viva, em que o poeta Alberto Pucheu reuniu 25 poemas sobre a ditadura escritos por poetas que foram presos, exilados ou assassinados pelo regime militar.

Condições ideais para o amor:
Poemas, manifestos e correspondência de um poeta-guerrilheiro
Luiz Eurico Tejera Lisbôa
Editora Sulina, 2022, 192 páginas


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