Arqueologia dos corpos: Foucault e os feminismos

Arqueologia dos corpos: Foucault e os feminismos
“Nuas” (1999), de Cristina Salgado (Foto: Renée Zicman)
  Não se apaixone pelo poder Michel Foucault Quando o conceito de gênero entrou no vocabulário das historiadoras feministas no Brasil, nos anos 1990, a tradição ocidental que reforçava a ideia de natureza feminina imutável e passiva já vinha sendo despedaçada e era radicalmente questionada pelas mulheres. O que mudou ali, então? Surgiu um modo de explicar a história do corpo, do desejo, do sexo e do poder, articulando o sistema cultural numa rede de significados que ampliaram a concepção de resistência feminista. Se os nossos corpos tinham uma história, qual seria ela? A própria subjetividade, assim, se descortinava como resultado de camadas sobrepostas de enunciados do passado, marcada pelos desejos enraizados dos que fizeram da inferioridade feminina seu espelho distorcido de grandeza, como afirmou Virgínia Woolf. A categoria de gênero permitiu marcar que aquilo que era tido por estático na “natureza feminina” – signo de subordinação atemporal – não possuía regularidade e similaridade exata em nenhuma cultura. Judith Butler, de modo luminoso, impunha-nos a reflexão de que o próprio sexo era constituído pela cultura, desvanecendo interpretações que ainda o mantinham sua narrativa biológica. Em suma, a radical diferença entre nosso presente histórico e a multiplicidade do passado fazia-se cada vez mais clara. Era possível ver pelo retrovisor uma outra história do possível, nas palavras de Tânia Navarro-Swain. Surgia no discurso histórico feito pelas feministas uma multiplicidade de vidas rebeldes, intensas. Mulheres que

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