Forma-de-vida e uso em Homo Sacer
Cigoli, São Francisco de Assis, 1597 (Arte Revista Cult)
Nos textos da série Homo Sacer, Agamben anuncia uma quarta parte da pesquisa, na qual as noções de “forma-de-vida” e de “uso”, em cuja direção convergem suas investigações arqueológicas, se mostrarão na sua luz própria. O primeiro volume publicado nessa seção de Homo Sacer é Altíssima pobreza: Regras monásticas e forma de vida (Homo Sacer, IV, I, 2011). O ensaio desenvolve uma indagação a respeito da vida monástica dos séculos 4 ao 13, e em particular sobre a teoria franciscana do usus pauper das coisas, que identifica como um “uso” irredutível à propriedade, por meio do qual os padres tentaram se subtrair ao direito. Altíssima pobreza é publicado contemporaneamente a Opus Dei: Arqueologia do ofício (Homo Sacer, II, 5, 2012), o texto em que culmina a genealogia teológica do governo encaminhada em O reino e a glória (Homo Sacer, II, 2;2007), e do qual constitui, em certo sentido, a pars construens. Se Opus Dei traz à luz o modo como a liturgia eclesiástica, elaborando a função sacerdotal, procura capturar a práxis contingente do homem e fazê-la coincidir no sacramento com a ação de Deus, Altíssima pobreza mostra o nascimento dos monastérios cristãos como uma tentativa de desativar o dispositivo litúrgico, de inverter a subordinação do agir particular do sacerdote ao governo divino, que se formula ligando a eficácia do sacramento à sua realização por meio da própria vida do monge. A pesquisa mostra como os monges relacionam sempre a liturgia ao modo concreto do seu exercício, reivindicando uma coessencialidad
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