A falta que faz uma crítica de arte
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Mário de Andrade, 1938, com 'O mamoeiro', de Tarsila do Amaral
Não se pode esperar muito da crítica de arte num país em que o termo “estética” é empregado mais comumente para referir-se a depilação e limpeza de pele. Mesmo assim, assusta a veemência com que Menotti del Picchia rechaça o atributo de crítico em 1920: “Eu não faço crítica, não sou crítico e detesto a crítica. Odeio a crítica; tenho medo da crítica. Acho inútil a crítica...”. Assim escreveu o autor de Juca Mulato no jornal Correio Paulistano, onde exercia regularmente a crítica de arte e de literatura sob o pseudônimo de Hélios, entre 1920 e 1922, na coluna “Crônica social”. Quase um século depois, continua tensa a situação do crítico no Brasil. Para muito além do ressentimento universal voltado aos críticos pelos criticados, a sociedade brasileira parece nutrir um desprezo todo especial por quem se ocupa em comentar os rumos artísticos alheios. O crítico costuma ser visto, entre nós, com desconfiança – como diletante desocupado ou carreirista ambicioso. Um inocente inútil, na mais branda das hipóteses, ou então alguém que remexe panelinhas, conjura cabalas e maquina ações entre amigos. De todo modo, é de bom tom que se negue a acusação de ser um deles, principalmente para quem pretende mesmo manipular a crítica de modo interessado.
O panorama histórico da crítica de arte no Brasil é, no mínimo, desalentador. Alguns dos nomes mais influentes, em sua própria época, estão esquecidos. Béthencourt da Silva e Félix Ferreira foram vozes notáveis nos anos 1880, mas seus escritos hoje são conhecidos excl
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