Eu sou é metida
(Foto: Reprodução/Folha de S.Paulo)
Como uma avalanche, Ruth Escobar entrou na minha sala na redação da revista Nova fazendo barulho, falando sem vírgulas, gestos eloquentes, brilho nos olhos.
A ousadia de Ruth eu conhecia desde 1969, quando ela demoliu parte do seu teatro para criar um vão livre de 20 metros de altura para a encenação da peça O Balcão. Uma encenação que foi considerada pelo autor, Jean Genet, a melhor de todas. Assim, ela colocou o teatro brasileiro na vanguarda teatral do mundo.
O que ela queria?
Propor-me a parceria para a realização de uma ideia sensacional, segundo ela. Sensacional era pouco: a ideia era grandiosa, ousada, meio impossível. Mais de 200 eventos, envolvendo as principais figuras femininas do país em artes visuais, música, teatro, dança, cinema e literatura. Trazer para a praça o que estava guardado no canto, trazer para a superfície a metade submersa da criação artística deste país. Debater sobre muros impostos e o descrédito que há séculos impedem que as obras das mulheres cheguem ao público.
O cenário?
Ditadura, censura, época em que feminismo era quase um palavrão.
Isso não era problema para Ruth Escobar. Já estava acostumada a realizar passeatas de protesto, ler peças proibidas sob ameaça de bomba, entrar com a cara e a coragem nos gabinetes de ministros e censores. Não era problema para mim também. Como Ruth, eu enfrentava os militares em Brasília para dar explicações sobre o que era publicado na revista Nova, submetida à censura prévia do Governo Federal – tudo o que era publicado tinha que ser liberado antes pel
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