A estética dos bebês e o direito à cultura

A estética dos bebês e o direito à cultura
  Para compreender uma realidade, é necessário poder acessá-la. É necessário falar ou criar um idioma que tenha a ver com ela, para traduzi-la e transmiti-la. Não é apenas com os olhos que enxergamos as coisas, é também preciso qualidades de alma para “ver” e depois comunicar determinados fenômenos. Winnicott, o psicanalista que também era pediatra, tinha uma enorme sensibilidade para com as crianças. Num tom bem-humorado e com jeito inglês, era notável como falava com as crianças em uma linguagem que combinava com elas. Como quando diz a uma menininha que espalha brinquedos pelo chão: “Oh, olhe só! Você está espalhando no chão, em volta das cabeças dos bebês, os sonhos que eles estão tendo, enquanto dormem”. Winnicott sabia convidar as crianças para sonhar. Talvez seja porque sua psique nunca tenha se afastado muito das qualidades brincantes próprias aos seres infantis. Ou porque tenha se deixado impregnar, como um bom psicanalista sempre o faz, da alma de seus pequenos pacientes de tal modo radical, que podia olhar do ponto de vista do bebê, como ele mesmo chamou tantas vezes. Isso possibilitou que certos fenômenos fossem por ele destrinchados, detalhadas as qualidades sutis da vida psíquica da criança, um convite a olhar por lentes do caleidoscópio dessa experiência infante. Experiência que, na realidade humana, nunca nos abandona inteiramente, mas transforma-se de modo infinito ao longo de toda a vida, sendo a própria matriz criativa de nossa relação com a cultura. Talvez por conta de as coisas serem assim é que, ao

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