Privado: Esse obscuro objeto do desejo
por Mariana Marinho
Bastava uma trégua no horário das aulas – ou a vontade de simplesmente querer se ausentar de alguma delas –, para que Paulo Werneck abandonasse o Liceu onde estudava em Paris e se dirigisse para o cinema localizado ao lado. Foi nele que o jornalista e tradutor, aos 16 anos, tomou contato com a obra de Luis Buñuel por meio de um festival permanente que exibia os filmes do diretor espanhol. Dentre os longas-metragens assistidos, Esse obscuro objeto do desejo, de 1977, acabou por ocupar um lugar de destaque em sua vida, acompanhando-o para além daquela sala de cinema.
“Assisti ao filme várias vezes, observando cada detalhe. Depois, fui atrás do livro que o tinha inspirado: La femme et le pantin, de Pierre Louÿs. Em português, algo como ‘A mulher e a marionete’. Li a obra e comecei a traduzi-la por volta dos 18 anos”, diz Werneck, curador da próxima Flip, em 2014.
Esse obscuro objeto do desejo conta a história de Mathieu (Fernando Rey), um homem maduro e rico que se envolve num relacionamento obsessivo – sustentado por um jogo de manipulação e desejo – com a jovem e bela Conchita, vivida por Carole Bouquet e por Ángela Molina. “O filme me impressionou pela estratégia narrativa de colocar, no mesmo papel, duas atrizes, que se alternam conforme o sentimento da personagem”, comenta.
Para Werneck, outro ponto alto do filme é a torção feita no roteiro. Logo nas primeiras cenas, vemos o final da trama, em que Conchita segue Mathieu até a estação de trem. Antes mesmo que a moça pudesse subir a bordo, ele atira sobre ela
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