Esquerda: uma ideia em movimento
Pintura do artista Tarcisio Leopoldo em muro na Vigília Lula Livre, em Curitiba, em 2018 (Divulgação/PT)
A transposição ao “espaço” político de orientações topológicas primitivas, como os pares de opostos direita/esquerda ou alto/baixo, confere-lhes um núcleo de significação razoavelmente estável. Nas instituições parlamentares, câmara alta e câmara baixa designam respectivamente, conforme o paradigma britânico, a assembleia dos Lordes e a dos Comuns. As instituições republicanas, ao menos no plano dos princípios, dessacralizaram o “alto”, de forte conotação religiosa e hierárquica, mas preservaram em sua maioria o sistema bicameral, com o Senado assumindo a representação territorial e a Câmara, a representação popular.
Incomparavelmente mais importante foi o destino do par direita/esquerda. O privilégio do mais alto relativamente ao mais baixo agride a ideia de igualdade (que, mal ou bem, integra os valores da era contemporânea), ao passo que direita e esquerda formam um eixo horizontal, que não provém de nenhum culto às alturas, mas de um fato histórico fundante, a Revolução Francesa de 1789. Os partidários da monarquia, na Assembleia Nacional Constituinte, sentavam-se à direita do presidente; os que pretendiam levar adiante o processo revolucionário, à esquerda. Essa localização circunstancial das duas alas da Assembleia acabou conferindo significado político às posições espaciais opostas que elas ocupavam.
Exatamente por simbolizarem os dois polos de uma antítese política, direita e esquerda determinam-se reciprocamente. Não há direita sem esquerda nem esquerda sem direita. Entretanto, e nisso reside
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